É, tudo na internet é em tempo real, mas precisei de um tempo pra conseguir escrever esse post. Mais de um mês após sua morte (8 de outubro) essa é minha homenagem.
Como já disse aqui, tenho uma visão diferente das coisas, do mundo e do futebol. Alguns dirão que é porque nunca fui um jogador habilidoso, no máximo um razoável goleiro e um zagueiro brucutu esforçado (tipo o Camilão do Santos, lembra?). Seja lá o motivo, eu sempre valorizei muito mais quem tivesse coragem vontade e amor à camisa do que quem simplesmente gosta de driblar, e muitas vezes parece descompromissado com o time. Assim, Chicão era um dos meus grandes ídolos, mesmo sem tê-lo visto jogar ao vivo. (Sou de 77, ano em que ele estava no auge). Francisco Jesuíno Avanzi, o “Chicão” nasceu em Piracicaba, em 30 de janeiro de 1949, e jogou no XV de Piracicaba, Ponte Preta, São Paulo, São Bento, Atlético Mg, União Barbarense-SP, Mogi Mirim-SP, Londrina-PR, Santos, Botafogo-SP, Goiás e Lemense. No São Paulo, alcançou o auge da sua carreira. Foi símbolo de garra, incansável no desarme. Pela maneira viril com que jogava adquiriu um problema crônico do nervo ciático, mas nem parecia que isso o atrapalhava. Além disso, tinha personalidade tão forte, que chegou a levar um cartão amarelo antes do jogo, começar quando gritou para o árbitro José de Assis Aragão “Apita direito essa porcaria! “. Tive o prazer de conhecer pessoalmente o Chicão, há cerca de 10 anos, num clube chamado Satélite, em Itanhaém, no litoral sul de São Paulo, e foi por várias vezes que pude bater longos papos e me deliciar ouvindo suas histórias, verdadeiras epopéias perdidas no tempo. O Chicão pessoa não tinha nada a ver com o volante. Era calmo, voz mansa. A notícia de sua morte me pegou de surpresa… Sequer sabia que estava internado, ou que tivesse câncer. Como as coisas são… Nunca pensei em tirar uma foto ao lado dele, afinal… eu o via com certa frequência… Bom, vale relembrar algumas histórias que ele me contou, por exemplo sobre sua mágoa com a imprensa que criticou sua escalação pra copa de 78 (onde foi um monstro marcando Kempes, da Argentina no 0x0 que eliminou o Brasil). Além disso, ele sempre fez questão de desmentir a historia de que foi ele quem quebrou o joelho do Angelo, jogador do Atlético MG na final de 77. Ah, pra quem gosta, tem uma entrevista dele após esse jogo em: Chicao2_SP_CAM_77.wma, e outra no youtube em:watch?v=4DFSh0G_8-g Mas o que eu mais gostava de ouvir, nem era bem uma história… Se era, confesso que fui eu quem a criou. O fato é que sempre que ele se animava relembrando seus feitos eu o desafiava com a pergunta: “Chicão, mas cá entre nós, se você tivesse chance de enfrentar o Pelé, ambos no auge de suas fases em uma partida decisiva (e digo isso porque eles chegaram a se enfrentar em um jogo que não valia muita coisa) o Pelé ia ter chance de fazer muita coisa??” No começo essa pergunta o incomodava, porque ele achava que era uma provocação minha, mas com o tempo (eu perguntei isso umas 10 vezes, em cerca de 5 anos, juro) ele parava, como que imaginando o momento e…. Sorria… Apenas isso. Ele dizia…. ” O negão jogava demais”. Eu insistia e dizia: “Mas você é o Chicão, aposto que ele ia ter medo de você.” E na mais ousada de suas respostas uma vez ele disse.. “Vai saber né? Num jogo decisivo… Eu podia aprontar alguma coisa”. Pronto. Pra mim estava perfeito. Daquele momento em diante Chicão não era apenas mais um grande jogador pra mim, mas uma lenda. O homem que pararia Pelé. Adeus Chicão, e muito obrigado por tudo. ]]>