A ideia do As Mil Camisas é registrar a lembrança dos clubes de futebol, mas em alguns casos, a história das cidades é tão interessante que merece um mínimo de detalhamento. Este é o caso de Cananéia, considerada por alguns como o primeiro povoado do Brasil, graças a um personagem polêmico da história brasileira: Cosme Fernandes, o “Bacharel de Cananéia“, retratado abaixo pelo pintor Carlos Fabra. Existe uma linha de historiadores que defende que antes da chegada de Pedro Álvares Cabral, Portugal já enviara diversas expedições secretas ao Brasil, e em uma delas, teria desembarcado na Ilha do Cardoso, o tal “Bacharel” que seria responsável por em 1498, criar um povoado na região da Cananéia. Esse é uma representação do Duarte Pacheco, um dos que podem ter trazido o Bacharel: Mesmo a versão aceita pela maioria dos historiadores também é incrível. Ela diz que o Bacharel teria chegado à Cananéia em 1502, na expedição de Gonçalo Coelho e Américo Vespúcio (figura abaixo), e que teria ajudado Martim Afonso a fundar oficialmente a cidade, em 1531. De uma forma ou outra, o Bacharel de Cananéia entrou pra história por ser um dos primeiros europeus a viver no Brasil, casando-se com a índia Caniné e se tornado parte do povo local, mais ou menos como João Ramalho (ilustrado abaixo) fez aqui pelas bandas do ABC. A presença do Bacharel serviu de muita valia em alguns momentos (por estar intergado aos índios), mas em outros ele foi um verdadeiro vilão para os portugueses. O povo de São Vicente que o diga, quando foi quase dizimado pelo Bacharel que aliado aos índios Carijós e aos espanhois, em retaliação a uma tentativa de ataque – que também foi fulminada – em plena Cananéia. A cidade acabou sendo esquecida, quando a Espanha conquistou o Império Inca (conhecido como o “reino branco” por causa da prata abundante) fazendo com que Portugal desistisse de enviar expedições ao sul do Brasil na tentativa de encontrar essa prata. Esse abandono evitou ainda mais polêmicas, uma vez que o tratado de Tordesilhas passava especificamente pela cidade de Cananéia. Não é a toa que a entrada da cidade reforça sua importância nas navegações européias do século XVI! Embora ainda pouco visitada pelo turista em geral, a cidade já se preparou para oficializar sua história, com o Museu Municipal. Conseguimos pegar um pouco da Festa do Mar, um evento que reúne as pessoas em torno da gastronomia e cultura local. Além de tanta história, Cananéia possui uma incrível fauna e flora, distribuídos entre suas ilhas. É sem dúvidas um paraíso ecológico, como comprova a Guará de cor vermelha, linda! A série de ilhas que rodeiam o continente nessa região carregam consigo boa parte da história do nosso país desde a ocupação indígena até os dias atuais. Quem sabe bastante disso é o historiador local João Borges, que dividiu conosco um pouco sobre o passado da Cananéia. Com tanta informação e inspiração, fomos atrás do templo local do futebol: o Estádio Municipal Édison Batista Teixeira, onde o Clube Atlético Cananéia mandou seus jogos. O site Só Futebol soltou uma camisa réplica (ou quase isso) (clique aqui se você tiver interesse): Já o site Cacellain apresentou uma imagem diferente do que teria sido a camisa: Esse é o muro do Estádio: Uma de suas entradas com o que costumava ser a bilheteria (ali já fechada do lado direito): Vamos dar uma olhada lá dentro?
O Estádio possui dois lances laterais de arquibancada. Coloridas e tudo!
Aqui, o gol esquerdo: O gol direito: O Clube Atlético Cananéia foi fundado em 1986 para representar a cidade na Terceira Divisão do Campeonato Paulista de 1986. E foi aí no Municipal que o time mandou seus jogos! A Terceira Divisão do Paulista de 1986 ficou conhecida por ter o maior número de clubes na história: 77. O time não passou da primeira fase, mas fez boas partidas, embora tenha perdido na justiça os 3 pontos que conquistou no jogo em Registro e ainda deu um WO contra o Embu Guaçu. Confira todos os resultados: A classificação ficou assim: Essas arquibancadas puderam ver boas partidas naquele ano! Como resultado na tabela, o Clube Atlético Cannéia não obteve grande êxito, num grupo com nove times, terminou em quinto, não se classificando para a próxima fase, mas o time acabava de colocar Cananéia no mapa do futebol profissinal para a eternidade. Olha aí o banco de reserva: Ao fundo, as montanhas relembram o valor ecológico da região (praqueles lados está a divisa com o Paraná). Só por curiosidade, embora não possua um time profissional, na hora de voltar à Itanhaém passamos por Pariquera-Açu (que na na língua tupi, significa “barragem grande e velha de peixes”) e registramos o Estádio Municipal Lauro Lobo que se limita a receber partidas amistosas e o futebol amador regional. O gramado apresenta-se muito bem cuidado! E ali na parede se pode conferir o registro do nom do estádio.