Este post se complementa com o que já escrevemos sobre a UE Funilense (veja aqui alguns registros do já falecido Estádio Arthur Nogueira, o “Estádio da Usina“).
Sempre gostei de viajar…
Tenho ligações e memórias carinhosas com muitas cidades, mas existem 4 que tem um lugar especial no meu coração: Santo André, Itanhaém, Buenos Aires e … Cosmópolis, a cidade da Mari e onde sempre estamos presentes pra curtir a família, a natureza ou mesmo pra servir de parada pros rolês do interior afora!
E embora tenha registrado a UE Funilense e seu estádio várias vezes (aqui tem mais um post sobre eles) faltava um time da cidade para ser registrado, que embora também tenha perdido seu estádio para o crescimento urbano, segue firme e forte, já tendo passado do seu centenário.
Trata-se do time que nesse 15 de Novembro, completa nada menos do que 115 anos, falamos do Cosmopolitano FC, fundado em 1915!!
Na época de sua fundação, Cosmópolis era apenas um distrito de Campinas.
O nome da cidade significa “cidade universo“, e é uma relação direta à história da ocupação de suas terras por uma infinidade de imigrantes de diferentes nacionalidades.
Vale lembrar esse momento da história, quando o fim da escravização fez com que os cafeicultores paulistas perdessem sua principal mão de obra e razão de tamanha lucratividade com o café.
O historiador de Cosmópolis Adriano da Rocha escreveu recentemente sobre como as marchas dos escravizados da região utilizavam o rio Baguá e acabaram criando as estradas entre algumas das cidades da região. Essa e outras histórias sobre a cidade podem ser conferidas na fanpage Acervo Cosmopolense.
Esse é o Rio Baguá em 1955, em foto do Acervo Filhos da Terra.
Uma vez aterrorizados com a ideia de não ter mão de obra, os “barões do café” passaram a bancar a vinda de imigrantes europeus para trabalhar na lavoura (num segundo momento o próprio Governo passou a realizar tal ação).
Só depois de chegar aqui, o imigrante entendia as “letrinhas miúdas do contrato” e descobria que ele deveria pagar pelos custos de sua viagem, e também pela habitação, comida e etc… Não a toa, muitos acabaram desistindo ou tentando desistir, já que legalmente estavam presos a um contrato em que a cada mês trabalhado suas dívidas com os donos da terra só aumentavam.
Foi assim que cidade viu surgir suas colônias de imigrantes, sendo a primeira delas a Colônia Núcleo Campos Sales (formada por suíços). Até escolas foram criadas para atender às colonias, como a tradicional Escola Alemã, que atualmente mantém uma série de festividades relacionadas à cultura alemã. Fotos do Portal Cosmopolense:
Com o Brasil investindo em sua industrialização, em 1898 foi fundada a Usina Ester, o que de certa maneira dividiu a cidade entre a turma da Usina, a vila e as famílias que viviam da agricultura. Leia aqui o post que mostramos algumas imagens da Usina.
Em 1906, surge o distrito de Cosmópolis e em 30 de novembro de 1944 eleva-se à condição de Município.
A “terceira onda” de desenvolvimento da cidade veio na década de 50, com os trilhos da Estrada de ferro da Funilense, braço da Sorocabana, que cruzava a Região Metropolitana de Campinas (Cosmópolis, Paulínia, Artur Nogueira, Engenheiro Coelho e Conchal).
Eu costumo comparar a estrada de ferro à Internet porque representava a porta de entrada de muita informação para a cidade. Consequentemente é nessa época que a cidade mais se desenvolve.
Foi este o cenário que colaborou para formação e fortalecimento do Cosmopolitano FC, que praticamente acompanha todo o desenvolvimento da cidade.
A principal fonte de informações para este post foi o livro “A história dos 100 anos do Cosmopolitano FC“, escrito por Walber Kowalesky e Antono Rodolfo Rizzo (interessados em adquirir o livro, contatar o próprio clube).
O livro apresenta uma série de fotos históricas que permitem registrar a história do clube, com times de várias épocas, esse foi o que jogou em 1917:
Inicialmente, o Cosmopolitano FC mandava seus jogos em um campo ao lado da Igreja Matriz, mas em 15 de novembro de 1919 conseguiram inaugurar sua “Praça de esportes“, com direito a uma arquibancada de 20 metros e 6 degraus, em uma partida onde empataram em 1×1 com a AA Ponte Preta.
Pra se ter ideia da importância do campo do Cosmopolitano, basta pensar que na época, nem Guarani ou Ponte Preta possuiam estádio. Veja que incrível registro de um amistoso em 1920:
Até detalhes do uniforme dos anos 20, podem ser observados:
Outra imagem deste ano, que estão no site “Relíquias do futebol“:
E assim, as primeiras décadas foram marcadas por partidas disputadas com adversários da região, como em novembro de 1920, na celebração de 5 anos do clube, quando o Cosmopolitano FC ganhou a Taça Carvalho & Fonseca, vencendo por 4×1 o Clube Concórdia, de Campinas.
A partir de 1921, filia-se à Liga Funilense de Futebol e já em 1922, sagrou-se campeão da Liga. Além disso, houve um torneio comemorativo ao centenário da Independência do Brasil, onde venceu o União Coqueiros FC por 4×0.
Em 1923, mais uma conquista da Liga disputada contra times como o Usina Esther FC, Guaiquicano FC, Paulinense FC, entre outros. Ainda nesse ano, levou a taça “Câmara Municipal de Campinas” ao vencer o Voluntários da Pátria FC, por 2×0 em 9 de setembro de 1923.
Em 1926, seguem as partidas e campeonatos regionais e esse foi o time que representou o Cosmopolitano FC.
Até o fim dos anos 20, o esquadrão cosmopolitano foi batendo adversários como o Capão Fresco FC (Betel), João Aranha FC, Quilombo FC (ambas de Cosmópolis), EC Tujuguaba (Conchal), União Internacional FC (Arthur Nogueira), Brasil FC (Campinas), Salto Grande FC e o CA Comercial (Limeira).
Aqui o registro do embate contra o Conchal FC, valendo a “Taça Apito” em 1927:
A década de 30 se inicia com o time se cadastrando na Liga Campineira de Esportes Athléticos. Aqui o time de 1931 que iria enfrentar o São Paulo Railway AC, conforme conta o jornal “A Gazeta“:
Infelizmente a Revolução Constitucionalista de 32 paralisou todas as competições esportivas do estado e a Liga Campineira não teve final naquele ano, mas encontrei no jornal “A Gazeta” uma nota sobre a 3a rodada, onde o Cosmopolitano FC é chamado de Cosmópolis:
O Cosmopolitano FC foi campeão da sua série e chegou à final do campeonato, perdendo por 3×1 para o Corinthians, que se tornou bicampeão campineiro.
Em 15 de Novembro de 1933, foi disputada uma partida em homenagem ao aniversário do Cosmopolitano FC e mais uma taça garantida com a vitória por 1×0 contra o time da Tecelagem Libanesa de São Paulo. O Correio de São Paulo até divugou o jogo:
O Cosmopolitano FC foi ainda campeão da Liga Campineira de 1933, após vencer o Pátria FC, no Estádio do Guarani, por 2×0. Segue uma nota da vitória da primeira rodada:
E a matéria do jornal “A Gazeta”, de 22 de janeiro de 1934 (disponibilizada pelo amigo Celso Franco, pesquisador do futebol campineiro) que mostra a vitória final:
Em 1936, o ano seria macado por mais um amistoso contra uma equipe paulistana: Clube Atlético Lapa. Distintivo disponibilizado pelo site História do Futebol:
Os anos 40 mantiveram a sequência de amistosos e desafios com destaque para o jogo contra o CR Floresta (de Artur Nogueira) em março de 1946, vitória do time de Cosmópolis por 3×2.
Em 47, uniram-se os rivais citadinos Cosmopolitano FC e Adm Usina Ester para formarem uma seleção e enfrentar no Estádio Thelmo de Almeida o Guarani FC de Campinas: vitória do Bugre por 3×2.
Em 48, uma série de bons resultados registrados:
Em 49, constam duas partidas jogadas como visitante: Itaicy FC 1×1 Cosmopolitano FC e EC Prada (Limeira) 0x1 Cosmopolitano FC.
Aqui, o time de 1952:
Aqui, o time de 1953:
Em 1954, um amistoso com um misto do Guarani FC.
Em 1955, um grande acontecimento, graças aos esforços de Adão Martelli Filho e Francisco de Mário, o Cosmopolitano FC foi convidado para disputar um amistoso contra a AA Avenida (de Salto), no Estádio do Pacaembú. A partida seria a preliminar de Palmeiras x Vasco (pelo Rio São Paulo daquele ano). Público presente: quase 40 mil pessoas! Infelizmente a tarde não estava para o time do Cosmopolitano FC que foi batido por impiedosos 7×3.
Em 1956, o time disputou o Setor 12 do Campeonato Amador do Interior ao lado da AA Internacional (Limeira), do CA Usina Santa Bárbara e da AE Internacional (Santa Bárbara), CA Usina Iracema (Iracemápolis) e EC Paulista (Santa Bárbara D’Oeste) como mostra a Gazeta Esportiva:
O time de 1957 tem uma característica muito especial: o quarto jogador postado em pé, da esquerda pra direita é o “João Bocão“, também conhecido como o vô da Mari infelizmente, já falecido:
Em 1957, o time disputou o Campeonato Amador do Interior, ao lado de outros 3 times na série B do setor 13:
Ainda naquele ano, disputou o Torneio João Mendonça Falcão, ao lado da UA Barbarense, AA Ararense, AA Internacional (Limeira), SER União São João e EC Lemense, Canto do Rio FC (Americana), como mostram diversas notas da Gazeta Esportiva da época de outubro de 1957, até a final em janeiro de 1958:
A Gazeta Esportiva divulgava o que seria o jogo final:
E infelizmente… o resutado 9×3 para os grenás da AA Ararense…:
Em 1958, o Cosmopolitano FC disputou o setor 21 da zona 14 do Campeonato Amador do Interior, ao lado de potencias como o XV de Piracicaba, e o União Agrícola Barbarense, como registrou a Gazeta Esportiva:
Aqui os jogos, alguns resultados e a classificação do grupo:
Em 15 de Novembro, em comemoração ao aniversário do clube, venceu o EC Mogiana por 3×1, como apresentou a matéria da Gazeta Esportiva da época:
Aqui, o 2o quadro de 1958:
Este, o primeiro quadro:
Em 59, disputou o amador do estado.
Em 1961, seu estádio ganha a denominação “Estádio Thelmo de Almeida” em homenagem a um dos sócios fundadores do clube que fez história jogando, apitando ou ajudando na organização do time.
Este foi o time de 1961, que empatou com o juvenil da AA Ponte Preta por 1×1.:
Em 62, mais jogos importantes disputando o amador do estado (não encontrei maiores detalhes sobre sua participação neste campeonato).
Aqui, um flagrante da diretoria do clube em 1962 (até Antonio Pinto, um dos fundadores do clube ali sentadinho):
Olha que maravilha a arquibancada coberta do Estádio Thelmo de Almeida, lotadinha em uma partida contra o Botafogo local!
1963: mais uma boa sequência, com direito a participação no Campeonato Amador da Federação (não encontrei maiores detalhes sobre sua participação neste campeonato):
O time de 1963:
Em 1964, mais uma vez o time disputa o Campeonato Amador do Estado, pelo Setor 21 e monta um grande time, que em março bate o Barão Geraldo por 6×2. Temos ainda uma ficha técnica disponibilizada pelo incrível site História do Futebol com o registro de incrível goleada:
Aqui, o time de 1964:
Aqui uma imagem da fachada do estádio em 1965, que recebeu o time de aspirantes do Guarani para uma peleja, também do site “Relíquias do futebol” (eles deram uma bela tratada na imagem do livro e a foto ficou linda!):
E aqui, uma foto do derbi no campo da Usina Ester:
Em 1966, sagrou-se campeão do setor 13, zona 22, numa sequência invicta de 25 jogos.
No time, ainda tem o “Tio Tito”(tio avô da Mari):
Veja a faixa feita na época para comemorar o título e já aparecendo seu mascote!
Embora o time fosse conhecido como o “Galo da Funilense“, logo, ganhou um mascote oficial, o papagaio da vila:
Em 1967, mais uma vez disputou o amador da Federação Paulista, mas antes venceu um amistoso contra o Real São Paulo de Campinas por 3×1. Pelo amador, o jogo contra a Usina Ester (futura Funilense) empatava em 0x0 quando um penalty foi marcado para o Cosmopolitano FC e o time da usina abandonou o campo, cabendo ao juiz dar a vitória ao time da vila.
Na última partida do amador, jogando em Serra Negra, venceu a Portuguesa local por 3×2.
O livro oferece duas fotos do time de 1967:
Em 1968, novamente uniram-se os times do Cosmopolitano FC e da Usina Ester para enfrentar o Guarani de Campinas, com vitória para os bugrinos por 3×2.
Há apenas o registro da vitória por 1×0 num amistoso contra o CA Silvicultura do Horto Florestal de São Paulo. Distintivo disponível no site História do Futebol:
Aqui, o registro do time de 1969:
Os anos 70 parecem ter afastado o time das disputas do Campeonato Amador da Federação Paulista. Há o registro de um amistoso em 74: Cosmopolitano FC 1×0 São José (Campinas).
Já em 79: Cosmopolitano FC 1×0 EC Alvorada (Campinas) e celebrando o aniversário do clube um amistoso contra a Inter de Limeira.
Quase não há registros do futebol nos anos 80. Em 1990, o time que se sagrou campeão municipal também disputou uma com o União São João, vencendo por 3×2.
Em 96, foi campeão da Liga Cosmopolense e o torneio municipal “30 de novembro”, revivendo o derbi com o time da usina agora representados pela UE Funilense.
Em 1997, conquista o Campeonato Paulista de Futebol Amador promovido pela Federação Paulista, desta vez realizando a final contra o time do SR Cantareira. Primeira partida vencida por 2×0 no Estádio Thelmo de Almeida e o segundo um empate por 1×1 no Estádio Mansueto Pierrot, em São Vicente. Foram 10 vitórias, 3 empates e uma derrota!
Em 2001, definida a venda do estádio. Eram os últimos momentos de um dos estádios mais antigos do estado…
Foi realizada uma partida de despedida entre os ex atletas do Cosmopolitano FC e uma seleção de craques do passado, que venceram por 3×1.
Em 2002, acertada a compra do terreno onde seria construído o novo estádio.
Em 2003 foi inaugurado em partida cont
ra o time B do Corinthians, que terminou com a vitória cosmopolense por 3×2.
E aqui está o Estádio Thelmo de Almeida, atualmente:
A placa celebrativa ainda homenageia mais um que tem estado bastante com a gente nessas andanças em busca de estádios: o Lúcio Carone (tio da Mari) que era o 2º secretário na época!
Vamos dar uma olhada no Estádio atualmente:
O Estádio possui uma estrutura bem maior que o original e fica na entrada da cidade.
Um grande lance de arquibancadas com 8 degraus, na lateral da entrada:
Além da arquibancada lateral, ainda existe um lance de arqubancadas atrás do gol!
Atrás do outro gol, os vestiários. E ali na lateral se pode ver os bancos de reserva e para os mesários / árbitros.
O Estádio além de bem cuidado e grandioso, possui toda a sinalização do clube, com seu nome no banco de reservas.
Olhando da arquibancada, esse é o gol da esquerda:
Aqui, o meio campo:
E aqui, o gol da direita:
A entrada do estádio possui ainda uma área verde que dá um charme especial ao Estádio.
Em 2007 e 2008, o sub 15 e o sub 17 disputam o Campeonato Paulista sa categoria.
O clube segue sua vida equilibrando as atenções entre o social e os esportes.
E pra terminar, o seu hino:
E olha que legal esse anúncio da Usina Esther pra terminar o post:
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