Dando sequência aos posts sobre os Estádios do Grande ABC, é hora de falar da casa do São Caetano Esporte Clube.
Mas o futebol do ABC tem outros times e outras histórias, caso queira conhecer mais, veja aqui o Mapa do Futebol no ABC, desenhado pelo Victor Nadal.
O post de hoje é em homenagem ao Ademir Medici, outro apaixonado pela história do Grande ABC que além de escrever uma coluna sobre a memória da região no Diário do Grande ABC, ainda editou vários livros sobre os principais clubes da região, entre eles, o São Caetano Esporte Clube. O livro “Uma história de campeões” foi a principal fonte utilizada hoje.
Outra fonte importante para esse trabalho foi o livro “Os esquecidos“, realizado pelo DataToro / RedBull, com pesquisas de Antonio Ielo, Fernando Martinez, Júlio Diogo e Marcio Javaroni e editado pelo Rodolfo Kussarev.
O São Caetano Esporte Clube nasceu em 1º de Maio de 1914, da fusão do Rio Branco (que alguns dizem EC, enquanto outros FC) e do Clube dos Amigos. Nos seus primeiros anos, participou de vários campeonatos locais e amistosos, inclusive fazendo algumas viagens pra jogar de visitante.
Não encontrei registros fotográficos do primeiro campo do São Caetano EC, mas ele ficava em uma área da família Roveri, antes usada pelo Clube dos Amigos, onde a Fábrica de Louças Adelina se instalaria. O campo não oferecia condições de disputar jogos oficiais e por isso, era comum jogar em campos emprestados. Aqui, algumas imagens da fábrica:
O segundo campo (também não encontrei nenhuma foto, até porque estamos falando das primeiras décadas do século XX) ficava na rua Heloísca Pamplona, e foi usado até 1920, quando o local passou a abrigar o Grupo Escolar Senador Fláquer.
O terceiro campo, conhecido como “O Estádio da Rua 28 de Julho” marcou época.
Possuia arquibancadas em madeira, inclusive uma pequena parte coberta. Ficava no terreno de uma firma de montagem de pontes, e o São Caetano EC pode mandar seus jogos ali por um bom tempo, até que no início dos anos 30, as Indústrias Matarazzo requereram o terreno.
As arquibancadas em madeira, com uma área central coberta e todo cercado, o que dava um charme único! Aqui uma outra foto, também do livro do Ademir Medici!
Aqui dá pra se ter ideia de como era o outro lado do estádio:
Em 1919, o time passa a disputar o Campeonato Municipal organizado pela APSA, que equivale à série A3 do Paulista atualmente.
Jogaria a A3 também em 1920, 1922 (quando chegou à segunda eliminatória, perdendo para a AA Ordem e Progresso), 1923 (também foi até a segunda eliminatória, desta vez perdendo para a AA Estrela de Ouro), 1924 e 1925. Esse, o time de 1926, que só jogou amistosos e torneios locais:
Em 1927, disputa pela primeira vez o Campeonato Paulista do Interior, pela APEA.
Em 1928, por falta de condições de seu estádio, mandou seus jogos pelo Campeonato do Interior em Santo André (no campo do Primeiro de Maio FC) e em São Paulo (no campo do Silex e do Ipiranga), mas isso não impediu o São Caetano Esporte Clube de se tornar Campeão do Interior!
Com o título do Interior de 1928, em 1929 o São Caetano Esporte Clube volta a disputar a série A3 do Campeonato Paulista pela APEA (nessa época, chamada de 2a divisão, ficando abaixo da primeira e da especial).
O Estádio da Rua 28 de Julho passa por uma reforma para poder receber os jogos desta competição e logo de cara, o São Caetano Esporte Clube conquista o vice campeonato.
O campeão de 1929 seria a AA Ordem e Progresso (que havia sido campeão da Divisão Municipal da APEA em 1928).
Olha o time deles, em 1935:
Mas, em 1930 chega a hora da celebração maior! O São Caetano Esporte Clube se torna campeão da série A3 e assim passa a disputar a A2!
O time sofreu uma única derrota no campeonato!
Em 1931, disputou a série A2 e por 3 pontos não saiu campeão.
A partir de 1932, o time passou a adotar o seu distintivo, já que até então, era apenas um uniforme preto e branco.
A série A2 de 1932 foi mais enxuta e perdeu um pouco da força porque a APEA criou dois novos Campeonatos: o do Interior – Divisão Campineira (onde o Guarani foi campeão) e o do Interior – Divisão Santista (a Briosa levou o título). Foram apenas 7 jogos e uma campanha apenas regular.
Em 1933, surge a Federação Paulista de Futebol e com ela, o profissionalismo começa a surgir no futebol paulista.
O São Caetano EC segue no campeonato da APEA, na série A2, que ese ano era dividido em 2 grupos, onde os melhores de cada um fariam a final.
Jogando no grupo “Série 1”, termina empatado em primeiro lugar com o time das Fábricas Orion, mas perde a partida de desempate e assim fica de fora da final.
O Fábricas Orion foi pra final e levantou o título de campeão.
É o time desta fábrica:
Que embora tenha se mudado de endereço, segue dando nome ao prédio, agora abandonado, na esquina das ruas Joaquim Carlos e Behring, no bairro do Belenzinho…
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Orion acolheu muitos imigrantes alemães de origem judaica, que fugiram da Europa por causa de perseguições.
O São Caetano EC ainda disputou vários amistosos nesse ano, dos quais dois merecem destaque: um contra o Primeiro de Maio que terminou em pancadaria (a ponto dos times combinarem não realizar o jogo de volta) e outro contra a Portuguesa, da qual se tem esse registro (a Lusa venceu por 3×2):
Chegamos a 1934, e agora haviam 2 campeonatos, um pela APEA e outro pela Federação Paulista (do qual o CA Fiorentino – que nada mais era do que o Juventus, que se lincenciou das demais competições, momentaneamente- saiu campeão da série A1).
O São Caetano EC fez uma boa campanha e terminou em 3o lugar (de novo a AA Ordem e Progresso levou).
Naquele ano, o time disputou um amistoso com o Palestra Itália, no Estádio da rua 28 de julho. Esse foi o time daquele jogo:
Em 1935 é um momento especial para o São Caetano EC: o clube adquire um terreno entre as ruas Paraíba e Major Carlo Del Prete, uma vez que a área do Estadio da Rua 28 de Julho é requerida pelas indústrias Matarazzo. Como o clube não tinha recursos, foi necessário muitas ações e parcerias para a realização desse sonho. Mas estava lançada a pedra fundamental do que seria o “Estádio da Rua Paraíba“.
A outra boa notícia é o convite feito pela APEA para que o São Caetano EC dispute a sua série A1 de 1935. O time termina em 4o lugar e ainda vence a Taça Bellard contra outros times da região.
A despedida do velho Estádio da Rua 28 de Julho se faz na partida contra a AA Ordem e Progresso, na primeira rodada do campeonato ( o time joga de visitante praticamente todos os jogos).
Em 1936, dois campeonatos paulistas são disputados: um pela LPF (Liga Paulista de Futebol), do qual o Palmeiras (Palestra Itália, então) sagra-se campeão, jogando contra as equipes mais fortes do estado, como Corinthians, São Paulo, Santos, Juventus entre outros times. O São Caetano EC segue fiel à APEA, que começa a apresentar sinais de decadência e melhora sua performance, alcançando o 3o lugar.
O destaque fica para a goleada de 6×1 contra o Ordem e Progresso (até eu já peguei birra desse time de tanto jogo contra ele kkkkk) e para o “derby regional” com o Primeiro de Maio, tendo o São Caetano EC vencido as duas partidas.
Esse foi o time de 1936, que teve que jogar quase todos os jogos como visitantes, uma vez que o Estádio da Rua Paraíba não foi finalizado.
Chegamos a 1937 com uma grande notícia: o Estádio da Rua Paraíba finalmente está pronto, e recebe o nome de Estádio Conde Francisco Matarazzo, sendo inaugurado em 1/5/1937.
Essa é uma foto do dia da inauguração, que contou com um grande festival que teve como ponto principal um jogo entre o São Caetano EC e um selecionado da APEA (4×1 para os donos da casa):
A entrada principal era na Rua Paraíba, onde ficavam as bilheterias além de um escritório para controle das carterinhas dos sócios.
Ao lado esquerdo (onde ficava um dos gols), estava a Rua Margarido Pires (a atual Av Goiás), à direita, a indústria Brasiltex e logo adiante a Rua Baraldi.
Aqui outra foto do livro do Ademir Medici, percebe a distância da torcida ao campo (sim, era só essa singela cerca branca que separava a torcida dos jogadores). Esta arquibancada coberta tinha capacidade para 600 torcedores. Ela dava costas à Rua Major Carlo Del Prete, embaixo delas ficavam os vestiários. Pro lado de trás, havia um portão maior para a entrada dos carros e ônibus dos times visitantes.
Outros dois jogos, nas duas semanas seguintes fizeram parte das festividades de inauguração do novo estádio: uma derrota de 1×0 para o Ipiranga e outra por 3×1 para a Portuguesa.
O São Caetano EC toma outra decisão importante neste ano: afastar-se da APEA e inscrever-se na Liga Paulista de Futebol (que se tornaria a atual Federação Paulista), mas termina 1937 sem disputar nenhum campeonato, assim como 1938, mas rolam festivais e até um campeonato só com times de São Caetano.
Em 1939, a agora “Liga de Futebol do Estado de São Paulo (LFESP)” decide convidar o São Caetano EC a disputar a Divisão Intermediária, equivalente à série A2 do Paulista.
E esse campeonato foi especial para o Grande ABC: 5 times da região participaram: São Caetano EC, Primeiro de Maio, EC São Bernardo, Cerâmica e Corinthians de Santo André) e 4 terminaram nas primeiras posições, tendo o Corinthians de Santo André como campeão!
Aqui, o goleiro Ettore Manilli em ação:
Chega 1940, e vem a grande conquista da Divisão Intermediária – a série A2 da época!
Mais uma vez enfrentando vários times do ABC, tendo o Palestra Itália de São Bernardo como novidade.
Inacreditavelmente, o time campeão de 1940 não disputa nenhum campeonato em 1941, nem 42 ou 43… Apenas amistosos.
Em 1944, disputou o Campeonato do Interior, mas acabou eliminado pelo Taubaté, em 45 e 46 não passou da fase regional de grupo (quem se classificou em ambas foi o vizinho CA Rhodia, de Santo André) e em 47 também saiu na segunda fase. Esse é o time de 1945:
Em 1948, uma grande novidade: a disputa do campeonato paulista da Segunda Divisão (a série A2) profissional. Joga a série vermelha e termina empatado em número de pontos com o Rio Pardo. Era só empatar o último jogo contra o Ginásio Pinhalense numa partida cheia de histórias….
Como apenas um time iria pra fase final, houve uma partida para desempatar e o Rio Pardo FC venceu, em campo neutro, em Limeira, por 5×3. O São Caetano EC jogou com Zinho; Mosca e Neno; Sérgio, Ninim e Escovinha; Suli, Iube, Andó, Wilson e Enzo. Técnico: Francisco Marinotti.
Em 1949, uma participação mediana, em sétimo lugar.
Duas fotos do time frente ao estádio neste ano:
Em 1950, sagrou-se campeão da sua regional, mas acabou desclassificadoo da segunda fase.
A foto do time campeão da sua série.
Em 1951, mais uma campanha mediana na Segunda Divisão – a série A2 da época- não se classificando para a parte final da competição, o vizinho Corinthians de Santo André classificou-se em primeiro lugar (no jogo em Santo André, deu São Caetano EC 2×1 contra o Galo da Vila Alzira, em 22/7/51):
Em 1952, é anunciado a construção de um novo estádio que servirá não apenas ao time mas à cidade. Analisando a distância eu me pergunto se realmente era necessário, visto que o Estádio Conde Francisco Matarazzo parecia dar conta do recado, mas alguns depoimentos da época dizem que o estádio já era pequeno para as grandes partidas (além de disputar a A2, foi comum a presença de Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos e Portuguesa disputando amistosos para casa cheia) e a própria Federação vinha reclamando das acomodações modestas.
O time que entra em campo para a A2 de 1952 é formado por novos rostos, convidados junto à várzea local, o que fez com que o início do campeonato fosse irregular, mas em determinado momento, parece que finalmente deu liga, como se pode notar nos resultados.
Como houve empate entre o São Caetano EC e o Taubaté foi marcado uma partida em local neutro (a Rua Javari) na qual o time do ABC bateu o burro da central por 4×2, com 3 gols do ponteiro Rino.
Infelizmente no chamado “Torneio dos finalistas”, o time perdeu a classificação para o CA Linense, que saiu campeão em cima da Ferroviária.
Time do CA Linense, campeão e que disputaria a série A1 de 1953:
Nessa época, independente da campanha do ano anterior, existia sempre uma expectativa para saber se o time seria convidado para a disputa da segundona e foi com muita alegria que o São Caetano EC confirmou presença em mais um campeonato, ao lado do vizinho Corinthians de Santo André.
Pra se ter ideia do tamanho do interesse, em 1953 é criada a Terceira Divisão (equivalente à A3 atual).
Aqui, o time de 1953:
Mais uma vez, os times são divididos em grupos e a campanha do São Caetano EC é apenas regular:
O ano de 1954 se inicia com as primeiras obras do que ser ia o novo estádio da cidade. Mas o que mexeria com as estruturas do futebol na cidade foi a fusão entre o São Caetano EC e o Comercial FC de São Paulo (que jogava a primeira divisão).
Dessa maneira surge a Associação Atlética São Bento, cujo nome e uniforme eram homenagens ao São Bento, clube paulistano campeão estadual em 1914 e 1925).
Como o Comercial já disputava a primeira divisão, a AA São Bento nasce na A1 de 1954!
Mas, contrariando as expectativas, faz uma campanha bem mediana, correndo até risco de rebaixamento…
Com o time disputando a principal divisão do estado (a série A1), o prefeito Anacleto Campanella se vê na obrigação de agilizar as obras do novo estádio.
Assim, 1955 se inicia de uma forma muito festiva: no dia 2 de janeiro, em um jogo válido ainda pelo campeonato de 1954 (veja na tabela acima) a AA São Bento inaugura o Estádio Anacleto Campanella, vencendo o XV de Piracicaba, por 1×0.
Pra quem nunca foi ao Anacleto, vale lembrar que ele fica num das partes mais elevadas da cidade e ná época não haviam arquibancadas ao seu redor como um todo, por isso, sofria uma grande ação dos ventos e isso rendeu ao estádio o apelido de “O Estádio do Morro dos Ventos Uivantes“.
Em 13 de janeiro, realiza-se uma partida celebrativa para a inauguração do Estádio Anacleto Campanella e o Corinthians é convidado como adversário e vence por 3×2.
E as arquibancadas se entopem de torcedores…
O time disputa toda a série A1 no Estádio Anacleto Campanella, mas nem a fusão nem o novo estádio servem de estímulo para uma campanha considerável no Paulistão de 1955…
O torcedor vê a AA São Bento terminar num modesto 11º lugar…
Os maus resultados estimulam as discussões sobre a real efetividade da fusão entre o São Caetano EC e o Comercial FC e a parceira chega em 1956 bastante questionada. Esse foi o time:
O campeonato de 1956 teve uma regra bem diferente, a primeira fase era um “torneio de classificação, onde todos jogavam contra todos num turno único.
Desse “torneio” o campeonato se dividiu em duas séries: azul (os 10 primeiros colocados) e branco (os 8 demais), sendo que só o azul disputaria o título. A AA São Bento conseguiu se classificar para a série azul, terminando o tal torneio em 6º lugar…
A torcida até que fez o seu papel, olha quanta gente ia apoiar…
Porém, frente aos times mais fortes, os resultados não vieram…
Dessa forma, a AA São Bento terminou a série azul em 1956, em último lugar…
Mesmo tendo se classificado para essa “série azul”, o fim do campeonato de 1956 gerou ainda mais barulho, principalmente entre os torcedores de São Caetano. Imagina a pressão na cabeça dos dirigentes, que tinham certeza que a fusão criaria um novo “time grande” para o estado. Dessa forma, o campeonato de 1957 se inicia com os nervos a flor da pele.
Mais uma vez tivemos o “Torneio de Classificação”, para dividir os times em dois grupos.
E pra piorar as condições, o time não consegue se classificar na série azul…
A AA São Bento acabou disputando a série branca, que não concorria ao título do Campeonato Paulista, apenas esse título “simbólico” da série branca, que sequer foi conquistado… O time acabou no 3º lugar…
Os resultados decepcionantes fizeram com que o projeto da fusão fosse ao chão… Dia 18 de dezembro de 1957, o conselho do clube se reúne e oficializa o fim da AA São Bento.
O São Caetano EC e o Comercial FC estão de volta, o time do ABC fica com o estádio, o da capital com a maioria dos jogadores. Ambos com dívidas e desconfiança quanto ao futuro.
Pra piorar o São Caetano EC não consegue o direito de seguir jogando a série A1 do Paulista e ainda tem que fazer muito trabalho de bastidor para conseguir sua inscrição na cada vez mais disputada segundona – série A2.
O campeonato dividiu os times em 4 grupos, e o São Caetano EC ficou no Azul, mas sequer se classificou para a segunda fase. Esse é o time de 1958
Em 1959, novamente na A2 e mais uma vez, uma campanha fraca, não se classificando em seu grupo, o “João Havalange”, onde ficou em quinto lugar.
Em 1960, o São Caetano EC fecha definitivamente suas portas para o futebol profissional e passa a se dedicar apenas ao clube social. Uma pena para a cidade, principalmente pra quem vive na região central que foi quem mais se apegou ao time.
Vale destacar outro time que fez história: o Cerâmica FC, fundado em 13 de maio de 1925 por operários da “Cerâmica Privilegiada” famosa pela produção de ladrilhos, telhas e tijolos refratários. O Cerâmica chegou a disputar a Divisão Intermediária da LFESP em 1939.
Time de 1954:
Como sabemos, a cidade ainda veria surgir novos times que chegariam ao profissional, como a TransAuto, o SAAD, a AD São Caetano
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