24 de outubro de 2020. É dia de conhecer mais um templo do futebol do interior de São Paulo: o Estádio Municipal Massud Coury, na cidade de Rio das Pedras!
A cidade fica bem próxima de Piracicaba e se você perceber, ela tem uma guardiã logo na entrada…
Uma simpática coruja que nos deu as boas vindas a este lugar tão importante para o interior de São Paulo.
Andar por essas bandas é reviver a história de locais por onde viviam, num primeiro momento, os índios e, na sequência, tropeiros / bandeirantes em busca de pedras preciosas e também na tentativa de escravizar esses indígenas locais. Esse é um assunto pouco falado no Brasil, que merece sempre uma lembrança, usando essa pintura de Jean-Baptiste Debret:
Como tudo era feito na caminhada, locais para descanso eram estratégicos, e logo a casa de uma família de lavradores ficaria conhecida como “Pouso do Rio das Pedras“.
Mas o tempo é o senhor da vida e tão rápido quanto os índios locais foram expulsos, escravizados ou exterminados, o progresso chegou materializado na Ferrovia. Nascia a Estação Rio das Pedras que segue por lá…
A estação colaborou para a chegada de mais pessoas criando um povoado que daria origem à Freguesia do Senhor Bom Jesus de Rio das Pedras, porque além de eliminar a cultura indígena, nosso povo sempre deu um jeito de incluir a religião na história.
Essa é a Paróquia Senhor Bom Jesus De Rio Das Pedras:
A qualidade das terras trouxe a cafeicultura para a região, e com ela escravizados africanos num primeiro momento e imigrantes (principalmente italianos), a partir da proibição da escravização.
O crescimento populacional fez a freguesia se tornar distrito do Município de Piracicaba, depois, elevado à Vila de Rio das Pedras, e finalmente à categoria de cidade em 19 de dezembro de 1894.
O declínio do café trouxe a cana-de-açúcar como acultura dominante da região para atender as Usinas que ali se estabeleceram (Usina São José, Usina Nova Java e Usina Santa Helena).
Claro que a Raizen já chegou por ali e dominou a produção local.
Atualmente, além das usinas, novas empresas tem se estabelecido na região, como a Hyundai. Assim, a cidade segue seu rumo ao futuro… Sem esquecer do seu passado.
E um olhar pro passado não pode ser feito sem deixar de se lembrar do futebol local.
Passaram pela cidade 5 times usando o nome “Riopedrense“.
O primeiro deles a Associação Atlética Riopedrense foi fundada na década de 20.
O time jogou diversas competições municipais e também com times da região. Encontrei essa foto na Fanpage “Rio das Pedras antiga”. Seria do time de 1934:
Nestas primeiras décadas de existência, jogadores como o goleiro Civolani e o zagueiro Dito Boi (nos anos 20), Lio Roncato (nos anos 30) e Luis Paris e Osvaldo Miori (nos anos 40) entraram para a história local. Esse foi o time de 1940:
A partir de 1942 passou a disputar a 15a região do Campeonato do Interior, até 1944. O time nunca chegou a se classificar para a segunda fase, já que essa era uma das regiões mais difíceis, visto que jogavam os times de Piracicaba, Santa Bárbara do Oeste, Capivari e Indaiatuba.
Só nos anos 50 o time realizou campanhas expressivas, como o bicampeonato da “Liga de Capivari”, a “Ituana“, que era a primeira fase, regional do Campeonato do Interior, de 1953 e 1954:
Em 1954, após ser campeão da “Ituana”, foi jogar a final da região com o XI de Agosto de Tatuí e sagrou-se campeão na melhor de 3 partidas (derrota por 4×1 em Tatuí, vitória de 3×1, em Rio das Pedras e 2×0 no jogo decisivo, dia 4 de abril de 1954). Destaque para os jogadores Áureo, Rugia e Joãozinho Migriolo e Antonio Furlan.
Leia mais sobre essa época no site de Luiz Barrichelo, um apaixonado pela cidade pelo time!
Outra boa matéria sobre a época saiu na “Revista Nossa“, lá de Rio das Pedras mesmo.
Mas, a AA Riopedrense acabou fechando suas portas e o time a representar a cidade no futebol a partir de 24 de junho de 1968, passou a ser o Clube Recreativo e Esportivo e Social da Usina Sao Jorge.
Era o time formado pelo pessoal da própria Usina São Jorge, que hoje se encontra em ruínas…
Mais do que manter o futebol ativo, o time da Usina São Jorge levou a cidade ao futebol profissional pela primeira vez na história, disputando a série A3 em 1975 e 76.
O amigo Roberto (pesquisador do time do Primavera de Indaiatuba) nos enviou um belo registro do empate em 1×1 entre o São Jorge contra o Primavera de Indaiatuba, em Indaiatuba, pelo campeonato de 76:
Ainda segundo as pesquisas do Roberto, o resultado do jogo de volta, em Rio das Pedras, no dia 3/10 foi um novo empate: Usina São Jorge 0 x 0 Primavera.
O resultado mais desastroso foi: A.E. Laranjalense 7×1 Usina São Jorge. Assim, compunha o seu grupo:
Com o fim do Clube Recreativo e Esportivo e Social da Usina São Jorge, surge o segundo time homônimo: a Associação Atlética Riopedrense.
Se por um lado, os dois times homônimos não guardam nenhuma relação entre eles, a população local acabou abraçando de coração esta segunda agremiação, fundada em 7 de junho de 1977, por Antenor Soave.
Iniciou sua história disputando o Torneio Alfredo Metidieri, naquele mesmo ano de 1977.
A então “refundada” Associação Atlética Riopedrense também levou a cidade ao futebol profissional!
A sua estreia aconteceu no quarto nível do futebol paulista (a atual série B) de 1977, que teve o Primavera de Indaiatuba como campeão. Aliás, obrigado ao Roberto e ao Michael por passarem os resultados:
No ano sequinte jogou o quinto nível do Campeonato Paulista (o que um dia foi a série B2) de 1978. Este campeonato era chamado de “Terceira Divisão“, mas acima dela existiam 4 outros níveis: o Campeonato Paulista de Futebol, a Divisão Intermediária, o Campeonato Paulista da Primeira Divisão e o Campeonato da Segunda Divisão.
Veja como foi a boa participação na estreia do time:
Classificado para o octogonal decisivo (o Dracena foi eliminado), o time terminou em 3o lugar!
Nesse ano, a rivalidade com a Saltense foi elevada à décima potência, já que a vitória sobre eles no último jogo, quando lideravam o Grupo, deu o título ao Cruzeiro. Olha que bela história contada por um torcedor da época:
“O primeiro jogo foi em Salto, e junto ao time, uma pequena torcida se deslocou para aquela cidade. A torcida da Saltense, pra ajudar o time, naquele dia humilhou e maltratou o nosso time e também a nossa pequena caravana de torcedores
Voltamos derrotados e humilhados a Rio Das Pedras.Jogo de volta, o troco. Sem ninguém combinar nada, a cidade se uniu em dar uma recepção melhor a que tínhamos recebido lá em SaltoDia do Jogo!!!!!!!!!! Horas antes do jogo, o povo de RdP já estava em peso na frente do Estádio. E sem nenhum líder, fez um grande corredor Polonês a espera de “nossos convidados”. E eles todos chegaram, o time e mais de dez ônibus de torcedores, isso fora uma caravana de automóveis, seguramente mais de 400 pessoas.Pois bem…..Hora do troço………. Conforme iam chegando, tinham que passar pelo corredor montado pelos Riopedrenses, e aí uma chuva de tapas e tabefes e alguns chutes no bum-bum. Apanharam, antes, durante e depois do jogo, em que o Cacique da Ituana (a AA Riopedrense) saiu vencedor.Terminado o jogo, os torcedores da Saltense se recusaram a sair do Estádio, pois o corredor novamente estava a sua espera, e somente com a chegada do Batalhão de Choque e do Canil da PM de Piracicaba, enfim deixaram o Campão em segurança, e lógico que com alguns pneus furados e algumas portas amassadas. Nem o Riopedrense e nem a Saltense, se sagraram campeãs naquele ano, mais o jogo entrou para a história. O TROCO FOI DADO.”
Em 1979, mais uma disputa da quinta divisão, classificando-se para a 3a fase!
Chegamos a 1980 e as mudanças na estrutura do futebol paulista levam a AA Riopedrense a disputar o terceiro nível do futebol paulista, a atual série A3, que tem o CA Lemense como campeão.
Em 21 de novembro, ainda foi disputado um amistoso: AA Riopedrense 1×4 Comercial (Ribeirão Preto).
Jogou a A3 ainda em 1981, que teve o Cruzeiro FC como campeão. Mais uma vez as pesquisas do amigo Roberto e do Michael nos ajudaram a dividir com você, os resultados:
Em 1982, mais uma A3, com o Barra Bonita campeão. E a AA Riopedrense realizou uma boa campanha!
Chegou a disputar a segunda fase do campeonato…
E em 1983, com o CAL Bariri campeão, a AA Riopedrense termina aí sua participação no futebol profissional.
Além das 2 AA Riopedrense, outros 3 times mais recentes resgatam o nome e o futebol local.
Este é o Clube Atlético Riopedrense, fundado em 10/07/2013 e que tem jogado o amador.
Outro, também dedicado ao futebol amador é o Clube Riopedrense de futebol.
E por fim a Associação Olímpica Riopedrense:
E a casa do futebol local em Rio das Pedras desde tempos antigos até hoje é o Estádio Municipal Massud Coury!
Mais uma bilheteria pra nossa conta!
O Estádio segue muito bem cuidado, com sua bela arquibancada coberta!
Pra se ter ideia geral do campo, olhando da arquibancada, esse é o gol esquerdo:
Aqui o meio campo, onde podemos perceber o sistema de iluminação.
E aqui, o gol do lado direito:
Vamos experimentar um role entrando no estádio desde a rua:
Aqui, uma visão do lado oposto, para se admirar a lindíssima arquibancada coberta!
A visita a um estádio como esse dá uma sensação muito bacana… Muita energia boa envolvida, muitas imaginações e imagens vêm à minha cabeça, como eu costumo dizer “saudades do que eu não vivi”.
E ao mesmo tempo me sinto honrado em poder estar num estádio que teve tanta história no passado e que ainda tem feito a alegria de quem gosta de futebol em Rio das Pedras.
Olha os bancos de reserva ali atrás, que bacana!
Tentei registrar o estádio no maior número de ângulos possíveis pra tentar dividir com quem não conseguiria viajar até Rio das Pedras, mas que adoraria saber como é andar por ali…
Aqui, eu estou atrás do gol, e se você estivesse ali e se virasse para olhar pra traz, veria que ao fundo do estádio está o ginásio de esportes da cidae, que aliás estava em reforma.
Ali, aparentemente estão os vestiários em azul.
Enfim, só nos resta admirar a vista do Estádio Municipal Massud Coury, sonhando com alguma iniciativa meio doida de levar novamente o futebol da cidade ao profissionalismo. Quem sabe com um dos times que jogam por lá atualmente…
Vamos embora, levando no coração e na memória um pouco de tudo isso que ouvimos, que vimos e que lemos…
Tremembé é uma cidade que sempre chamou minha atenção, embora eu não tenha nenhuma grande memória com o futebol local, mesmo sabendo, agora, de sua tradição.
Localizada na região Metropolitana do Vale do Paraíba, Tremembé é a casa de quase 40 mil pessoas.
Seu nome é de origem tupi: “Tirime’mbé”, que entre outros significados pode ser compreendido como “Escoar Molemente”, uma ligação com os vários rios e riachos presentes em seu território, com destaque para o Rio Paraíba.
Em 1877, a ferrovia chegou à região e a estação de Tremembé foi inaugurada em 1914, mas, teve vida curta… A linha entre Pindamonhangaba e Taubaté foi desativada em 1951, eliminando a estação de Tremembé, restando à população local a nova estação de Engenheiro Cotrim que ficava fora da cidade. Em 1970, o prefeito tentou derrubar a estação abandonada para construir o paço municipal, porém o povo não deixou e o prédio continuou ali, até hoje.
O futebol na cidade tem uma série de times que fizeram (e fazem) a alegria dos tremembeenses, mas dois times representam verdadeiros patrimônios para o futebol. Um deles é o Clube Atlético Tremembé, o “CAT”!
Fundado em 18 de julho de 1921, o CA Tremembé brilhou nas disputas municipais e regionais. Esse é um dos primeiros times da história do clube:
O CA Tremembé fez história ao disputar o Campeonato do Interior de 1942, no grupo da 24ª Região, que teve o EC Taubaté como campeão.
Vale reforçar que em 1942, o Maristela FC, também de Tremembé, participou do Campeonato do Interior. (Distintivo refeito por Victor Nadal):
Em 1943, o CA Tremembé jogou mais uma vez o Campeonato do Interior, e novamente teve o EC Taubaté como campeão do grupo.
Em 1944, novamente disputou a 24ª Região, com novas equipes, mas novamente com o EC Taubaté campeão.
O CA Tremembé também participou do campeonato de 45 e mais uma vez teve o EC Taubaté campeão!
Em 1946, o time não disputou o Campeonato do Interior, voltando apenas em 1947, quando disputou o Setor 2 da Zona 1, tendo como campeão a AE Guaratinguetá.
Pra quem gosta de boas imagens do passado, a Fanpage “Tremembé das antigas” disponibiliza uma série de fotos da cidade e também do time do CA Tremembé, como essa, justamente de 1947:
A mesma fanpage ainda disponibiliza (sem a menção à data) outras fotos lindas, do time.
E uma imagem de 1955, mostra que o futebol sabe ser “gente boa” quando quer 🙂
O CA Tremembé mandou e manda seus jogos no Estádio Amèrico Texeira Pombo, a “Arena Atlético Tremembé”!
Como a pandemia tirou o futebol do dia a dia, o estádio acabou um pouquinho descuidado, mas vale mostrar como eraa faixa antes desse período:
O Estádio fica no meio da cidade, na Rua André Geraldo da Silva e além da entrada mostrada nas fotos acima, também tem esse portão com o distintivo do clube.
O pequeno portão dá entrada a um mundo mágico, mas a pandemia parece nos impedir de conhecê-lo internamente…
A menos que… A vizinhança dê uma força para conhecer a “Arena Atlético” por dentro de seus muros.
Sem dúvida que a parte mais charmosa e que parece transparecer muita história é a arquibancada coberta!
A mensagem na arquibancada é clara: “Aqui é Atlético!“
Várias árvores ao redor das arquibancadas dão uma cara ainda mais legal pro campo e pra arquibancada.
Esse é o gol da entrada:
Ainda existe uma estrutura bem bacana de bar, vestiário e tudo o que precisa para seguir levando o futebol amador!
Esse é o gol do fundo, com vários eucaliptos dando uma refrescada pro goleiro:
Tem até uma área para a imprensa:
E aqui dá pra ver como o estádio é literalmente “colado” às casas da vizinhança:
Mas… Algumas pessoas do futebol local dizem que o Estádio Américo Texeira Pombo também teria participado do futebol profissional, graças a uma participação especial do segundo time da cidade na 3a divisão de 1957. Trata-se do CREIX!
Esse é o distintivo mais difundido, mas as fotos mostram que o distintivo usado pelo time era outro:
O Clube Recreativo e Esportivo da Indústria do Xisto foi um clube de vida efêmera na cidade de Tremembé, que nasceu para servir aos operários locais.
O time foi fundada em 1956 e disputou a série A3 de 1957.
Segundo nos contaram, embora o CREIX tivesse um campo de futebol, onde atualmente fica localizado o Fórum de Tremembé, eles teriam disputado algumas partidas da A3 de 57 em cidades vizinhas, como comprova a nota da Gazeta Esportiva que o amigo Ivan Gotardo localizou…
E aqui, o amigo e pesquisador do futebol de Taubaté, Moacir (autor do blog https://moataubate.com) me enviou uma matéria sobre o jogo entre o CREIX e a Ferroviária de Pindamonhangaba comprovando que o campo do CA Tremembé foi também a casa do time na série A3 de 1957!
Então… voltemos a olhar o Estádio Amèrico Texeira Pombo, agora dando lhe os devidos créditos de ter recebido jogos da série A3!!
Esse foi o time que disputou a A3 em 1957:
No ano seguinte, o CREIX voltou a disputar amistosos, como em 13/04/1958, quando venceu o Instituto de Reeducação por 3×0 (informação do incrível site História do Futebol.)
A fanpage “Tremembé das antigas” guarda outras fotos do time do CREIX, sem identificação da data:
Aqui uma foto da viagem do time do CREIX para Piquete:
Mais uma cidade com bastante história no futebol paulista que segue se mantendo no amadorismo mas que sem dúvida poderia voltar a se arriscar no profissional!
Ah, que rolê incrível! Pra quem acha que o futebol de verdade neste ano de 2013 é a Copa das Confederações, recomendo uma voltinha pelo interior paulista.
É muita história, muitos times e muitos estádios. Saímos de Regente Feijó e fomos para Rancharia!
Rancharia é uma cidade com pouco mais de 30 mil habitantes.
A cidade foi fundada em 1916 e está a pouco mais de 520 km de São Paulo.
Rancharia tem na produção agropecuária e no Algodão suas principais atividades econômicas, e como toda boa cidade do interior, tem uma igreja ali no centro!
Eu não imaginava, mas Rancharia é o 6º maior município do estado de São Paulo, e tem como motivo de orgulho o Estádio Francisco Franco, na Rua Adhemar de Barros, 750, onde a A.A. Ranchariense mandava seus jogos!
Você pode estar se perguntando por que eu estava olhando para o lado. A resposta está aí embaixo.
Um novo amigo do blog, ainda que em forte momento alcoólico, fez questão de sair na foto!
Outro amigo foi a Mari que fez!
Vamos dar uma olhada na parte interna do estádio!
O Estádio Francisco Franco tem capacidade para mais de 4.600 pessoas.
O futebol em Rancharia teve seu auge nos anos 40, quando surgem a A.A. Ranchariense e a A.A. Matarazzo, para disputar o Campeonato do Interior da Federação Paulista.
O time do Ranchariense só foi se profissionalizar em 1978 .
Olha aqui a campanha da Ranchariense na 5a divisão de 1979:
Aqui, uma outra bela campanha do time, dessa vez, pela Terceira Divisão de 1985:
Olha aí que presente do amigo e leitor do blog Fabio Teixeira: fotos de 1988, contra a Chavantense:
Rancharia tem mesmo uma relação bem apaixonada com o futebol!
O gramado está em perfeitas condições!
Belas arquibancadas que viram desde 1978 a equipe da Ranchariense representar a cidade no Campeonato Paulista de Futebol.
No momento da nossa visita, um rachão com cara de peneira entre uma molecada da cidade rolava no campo.
O Estádio está em obra na arquibancada atrás do gol.
A arquibancada é aquelas de cimento, old school.
Junto do estádio tem uma pequena estrutura com algumas salas.
Homenagem ao pessoal do Juventus!
E dá lhe a molecada jogando!
Uma visão de dentro do campo.
Aí está um time que eu gostaria muito de ver jogar…
Mais uma vez, ficamos orgulhosos de poder entrar em um estádio que está na história o futebol brasileiro.
A 39ª camisa da coleção é uma das que considero especiais. Acho até que pessoalmente, é a de maior valor histórico das que eu tenho.
Pertence à já extinta Associação Ferroviária de Assis:
E a considero histórica, primeiro porque, embora seja o uniforme número 2 (o número 1 é vermelho com os destaques em branco) é uma camisa oficial e foi usada em partidas oficiais na década de 70, pelo time da cidade de Assis, onde meu pai passou boa parte da infância.
Além disso, como parte da família trabalhava na Estrada de Ferro Sorocabana, meu tio “Zé”, na época conhecido como Alemão, jogou na equipe. Olha ele aí numa “clássica” 3×4:
Olha ele aí agachado (o 3º da direita pra esquerda):
A Associação Atlética Ferroviária de Assis (AAFA)foi fundada em 1927, sendo mais uma linda história de amor entre o futebol e a ferrovia. Miguel Belarmino de Mendonça foi o primeiro presidente do clube.
Até o início dos anos 40, o time se manteve na disputa de amistosos e de torneios regionais, sempre jogando com a casa cheia!
Mas em 1942, fez sua estreia no Campeonato do Interior, sendo campeã da 13a região e chegando até a 2a eliminatória (equivalente às quartas de final).
Em 1943, a Vermelhinha novamente foi campeã da 13a região e chegou à 3a eliminatória (também equivalente às quartas de final), sendo eliminada pelo Noroeste, que seria campeão:
Chegou 1944 e a AA Ferroviária se consolidou como força da região sendo campeã pelo terceiro ano consecutivo da sua região e avança até a fase inter regional do campeonato, sendo eliminada pela Ferroviária de Botucatu:
Adivinha o que houve em 1945? Mais uma vez a AA Ferroviária vence o seu grupo! Mas mais uma vez um time de Botucatu elimina a vermelhinha…
Chegamos a 1946 e como já esperado a AA Ferroviária sagrou-se campeã do seu grupo, classificando-se para a próxima fase, que também foi um grupo e mais uma vez, sendo vencido pela Botucatuense.
Aliás, vasculhando pelas redes sociais da cidade de Assis, achei uma foto muito bonita do time, de 1946:
Em 1947, disputou novamente o Campeonato do Interior, novamente chegando até a fase regional e sendo eliminado pela Botucatuense.
Por conta do endereço de seu estádio e da cor da sua camisa, o time era apelidado de “a vermelinha da Rua Brasil“.
O nome oficial do estádio é Dr. Adhemar de Barros e sua construção foi gradativa: primeiro o campo, depois as arquibancadas, os vestiários e por fim a iluminação. (Veja maiores detalhes do estádio no post sobre minha visita recente à Assis).
Por fim, o acolhedor e ao mesmo tempo intimidador Estádio Dr. Adhemar de Barros estava pronto, como podemos ver nessa foto do site www.umdoistres.com.br, de Assis:
Foi nele que o time mandou seus jogos e até hoje, ele segue ali na Rua Brasil, não muito diferente do que era na época.
Esta é a charmosa arquibancada, parcialmente coberta que fez parte da infância e da juventude de quem amava futebol nos anos 50 e 60…
Sua capacidade era de pouco mais de mil torcedores que ali estiveram para apoiar times como esse:
Aqui, o gol do lado da Rua Brasil:
E o “gol dos fundos”:
Deu até pra gente bater uma bola…
Lembrando que essas traves já foram defendidas por ninguém menos que o goleiro Jefferson, que chegou a atuar pela seleção brasileira, mas ficou famoso jogando pelo Botafogo do RJ.
Também conhecida como a “Veterana“, o time da Ferroviária marcou época e entrou pra história ao disputar a série A2 de 1949 até 1952, quando foi rebaixada pela lei que exigia que as cidades tivessem um mínimo de 50.000 habitantes.
Essa foi sua campanha em 1949, quando não passou da primeira fase, a “Série Preta”:
Aqui, a campanha de 1950, e mais uma vez, não passou da primeira fase, a “2a Série”:
Aqui, a campanha de 1951:
E esta a de 1952:
Disputou a série A3 de 1953 até 1957, com destaque para o empate conquistado em 1957 contra o Tricolor Paulista que visitou Assis sem grandes pretensões, mas não conseguiu vencer a vermelhinha!
Retornou à segunda divisão em 1958 e 1959. Em 1958 fez uma campanha bem ruim, terminando em último do Grupo Verde:
Em 1959 mais uma campanha ruim…:
Voltou a jogar a A3, a partir de 1960, aqui, uma foto do time dessa época:
Mesmo em alta, o time via-se atolado em dívidas, o que obrigou o presidente da época, Joãozinho Maldonado a tentar vender “Mingo” o maior de seus craques à Portuguesa.
Pra piorar, a Lusa achou que o valor era alto demais e não comprou o jogador que preferiu ficar trabalhando na Estrada de Ferro.
Infelizmente, em 1967, o clube perde uma partida decisiva contra o MAC (Marília Atlético Clube) e inicia-se uma crise agravada ainda mais com a ascensão de outro time da cidade, o VOCEM (veja a camisa dele aqui).
E assim como a Estrada de Ferro começava a perder a atenção para as grandes autopistas, a Ferroviária sai do profissionalismo em 1976, em detrimento do futebol moderno e caro.
Mesmo fim de muitos times importantes do interior fizeram e ainda estão fazendo hoje em dia. Uma prova viva do desinteresse cada vez maior do brasileiro pelo futebol. Mas aí vão mais algumas fotos do passado para quem sabe calentar os corações que podem ter se congelado: