Em busca do Estádio perdido em Peruíbe!

Ah, nada como curtir um tempo na praia… Ainda mais quando dá pra integrar esse tipo de lazer a um local tão importante na história do Brasil, e que não tem o reconhecimento merecido. Hoje, vamos falar da história e do futebol de Peruíbe, cidade onde vivem mais de 67 mil pessoas. Peruíbe Primeiro, pra quem não sabe, Peruíbe é uma cidade no litoral sul de São Paulo, entre Itanhaém e Iguape há pouco mais de 130 km de São Paulo. Dá uma olhada no Google Maps pra ver como é próxima de Santos: Peruíbe - Mapa Além da fama das praias, muitos conhecem Peruíbe pela questão ecológica graças à incrível reserva da Jureia e também ao seu potencial místico, onde seria possível contatar diferentes formas de vida e também alienígenas, graças a energia do lugar. Aliens em Peruíbe Falando em energia, nos anos 80, a cidade esteve muito perto de receber uma usina nuclear, fruto da mente dos militares, mas a população local conseguiu barrar essa loucura, como se pode perceber na matéria do Jornal Globo da época:Usina nuclear em peruibe Mas Peruíbe vai além dessa conceituação inicial. O termo Peruíbe, como a maioria dos termos indígenas, tem várias possibilidades de significado. A mais aceita é que nasce da união dos termos tupis: iperu (tubarão) + ‘y (rio) + pe (em): Iperuype, que significaria “no rio dos tubarões”. A história desse lugar é mágica. Primeiro porque fora ocupada há séculos, muito antes da invasão europeia do século XVI. Aí viviam várias aldeias indígenas tupi-guaranis (os tupis lutaram desde a era cristã pela ocupação do litoral brasileiro). Atualmente, ainda resistem indígenas vivendo por ali. Existe inclusive um projeto de integração e vivência que pode ser conhecido por esse vídeo:

Ainda nas primeiras décadas (nos anos 30) do século XVI, a região faria parte da Capitania de São Vicente, cujo donatário era Martim Afonso de Sousa. Me chama a atenção o fato de que este foi um dos primeiros lugares onde se deu as relações entre europeus e indígenas, por meio dos jesuítas. Os registros históricos indicam que em 1549, já havia a presença de um padre conhecido como Leonardo Nunes (apelidado pelos indígenas de Abaré-bebé (“Padre Voador“, já que ele costumava viajar muito) a frente da Igreja de São João Batista, que atualmente ainda existe e pode ser visitada!! Quer dizer… o que sobrou dela, é chamada de Ruínas do Abarebebê. Nós estivemos por lá pra conhecer e recomendamos o passeio pelo valor histórico! Ruínas de Aberebebê - Peruíbe Ruínas do Aberebebê Vale lembrar que nesta época, essa região era conhecida como Aldeia de São João Batista e fazia parte do povoado que daria início à Vila da Conceição de Nossa Senhora, futura Itanhaém. Anos mais tarde, após sofrerem uma série de ataques de outros índios, os jesuítas e índios que aí viviam se mudaram para a atual localização da cidade de Itanhaém. Peruíbe só conquistaria sua emancipação política, séculos depois, em 1958, tornando-se um município independente, graças a ação de vários políticos, entre eles, João Bechir.

Para que essa lembrança não fosse facilmente apagada, o então vereador dá atualmente, nome ao estádio municipal da cidade! Estádio Municipal Vereador João Bechir - Peruíbe FC Pois é… Sempre reclamei do litoral sul ter pouca atividade quanto ao futebol profissional, Mas… Acabamos colaborando com esse “descaso”, já que não assistimos a um jogo sequer do Peruíbe Futebol Clube, que teve uma breve vida no futebol profissional, em 2016. O Peruíbe FC nasceu em 2014, ainda dentro do futebol amador, mas com a criação da Taça Paulista, organizada pela Liga de Futebol Paulista, o time teve a oportunidade de se profissionaliza, nessa que seria uma “federação paralela” à Federação Paulista de Futebol, criada pela advogada Gislaine Nunes. Liga Paulista A Taça Paulista foi a primeira competição organizada por eles e contou com 34 times (entre equipes até então amadoras e profissionais licenciados) e teve como camepão o time da Ranchariense ( já estivemos por lá, clique aqui e veja como foi): Liga Paulista 2016 A liga ainda existe, e atualmente se apresenta como “Liga Nacional de Futebol“. Liga de Futebol Nacional Pois bem, embora a campanha do Peruíbe FC não tenha sido das melhores, o time levou o nome da cidade até uma competição profissional pela primeira vez. Estádio Municipal Vereador João Bechir - Peruíbe FC O Peruíbe FC manteve sua atuação na Liga Paulista em 2017 e 2018, embora nesses anos, o time tenha mandado seus jogos em outras cidades, já que infelizmente a diretoria do clube e a Prefeitura Municipal não conseguiram chegar em um acordo e o Estádio João Bechir parece ter se despedido das disputas profissionais. Estádio Municipal Vereador João Bechir - Peruíbe FC Sendo assim, vale um olhar para o Estádio, torcendo por dias melhores. Estádio Municipal Vereador João Bechir - Peruíbe FC Incrível como a história se repete, dessa vez nos esportes… Uma cidade e sua população sem valorizar a cultura local, perde o time que até então defendia as cores e o nome de Peruíbe. Estádio Municipal Vereador João Bechir - Peruíbe FC A nós, resta observar como as coisas vao se ajeitando, uma vez que os atuais proprietários do clube tornaram-se proprietários do Real Cubatense, time de Cubatão que disputa o São Paulo Cup (outra nova competição profissional). Estádio Municipal Vereador João Bechir - Peruíbe FC

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E.C. Santo André e os Xavantes

O texto abaixo é de autoria do amigo Guilherme Falleiros, Doutor em Antropologia Social pela USP. O email dele é gljf@usp.br

 Os Xavante vestem a camisa do Santo André

Muito já foi falado e escrito sobre o futebol jogado pelos índios Xavante, do Mato Grosso, pelo meu grande colega Fernando Vianna em “Os Boleiros do Serrado”. Mas, assim como o futebol em geral, o futebol xavante também é uma caixinha de surpresas. Em minha estadia antropológica nas aldeias Abelhinha e Belém aprendi muito sobre sua disciplina nos treinos de madrugada e seu gosto por jogar horas e horas sem parar, debaixo do sol, demonstrando sua força para a comunidade. Jogando até com duas bolas ao mesmo tempo! Eu estava na aldeia Belém no dia do fatídico jogo entre Santo André e Santos pela final do Paulistão de 2010, no qual nosso Ramalhão foi derrotado pela malícia e perfídia da péssima arbitragem, sendo para muitos o campeão de honra. Neste dia, a TV da aldeia estava ligada e todos torceram pelo Santo André, demonstrando sua amizade a mim e ao time da minha terra. Na Abelhinha, levei de presente para o time juvenil da aldeia, dos quais sou padrinho, 10 camisas amarelas do glorioso Ramalhão. Mas como os índios não são de acumular, as camisas acabaram sendo distribuídas e poucas restaram. Mesmo assim, eles gostaram tanto que agora me pedem um jogo completo de uniforme do Santo André. Será que vou conseguir? Se você puder ajudar de alguma forma, eu e os Xavante ficaremos muito gratos! Os Xavante gostam de vestir a camisa e jogar com garra, transformando seu espírito guerreiro em jogo de corpo. E ai de quem queira dar uma canelada nas suas pernas duras como toras! Eles não caem nem pedem falta – só se for por querer! E também  não temem os times grandes, mostrando que sua força vem das bases, das raízes guerreiras e da fome de bola, perseguindo-a como caçadores. É assim que o futebol e o Ramalhão rompem fronteiras, tornando-se símbolos do diálogo entre diferentes povos.]]>

Boleiros do Cerrado – índios xavantes e o futebol

http://punkcanibal.zip.net e estudioso dos Xavantes, foi até lá e escreve o relato abaixo: Foi lançado no dia 12 de dezembro de 2008, em São Paulo (livraria Martins Fontes), o livro “Boleiros do Cerrado – índios xavantes e o futebol“, de Fernando de Luiz Brito Vianna, o Fedola.

livro-indio

Um lançamento direto para o gol, fazendo sucesso não só entre os antropólogos como também para uma arquibancada de estudiosos da bola que vem crescendo no Brasil. Fedola – que para mim é uma espécie de “irmão mais velho” (indub’rada, em língua xavante) na pesquisa de campo do povo Xavante – estava muito à vontade dando autógrafos para a torcida de amigos, boleiros profissionais, etnógrafos e família. Entrar no mundo xavante através do futebol é o maior trunfo de seu trabalho, ainda mais porque os Xavante não escondem de si mesmos o fundamento lúdico de sua humanidade, como poderia dizer um antigo estudioso do jogo – Johan Huizinga. Para os Xavante, não existe tanta diferença entre ritual, brincadeira e jogo – a palavra é uma só, dató. Algumas de suas instituições mais importantes envolvem a disputa jogada, como a relação entre os grupos de idade. Eles levam muito a sério suas brincadeiras e também sabem jogar duro, como pude sentir na pele ou, mais precisamente, no corpo. Não só no esporte como na dança, na caça, na vida… praticam um verdadeiro jogo de corpo. E encará-los através do futebol também facilita o jogo para os leitores brasileiros, para quem essa arte importada pela nossa tão celebrada antropofagia se tornou um símbolo nacional. Um símbolo mitológico da brasilidade, tão fundamental para nossa idéia de “nação” quanto os “nossos índios” o são. Talvez por isso mesmo este livro atraia tanta atenção, sendo um verdadeiro “jogo absorvente”. Guilherme Falleiros http://punkcanibal.zip.net P.S.: Assim como o Mau, os Xavante adoram receber camisetas de presente. Sua camiseta do Juventude de Primavera do Leste, que eu trouxe diretamente do serrado xavante, está a espera do jogador que irá vesti-la! Salvar]]>