O União dos Operários Futebol Clube

Com tantos roles pelo interior, as vezes sinto que registro pouco o futebol da capital, que, sem dúvida, tem uma história única no futebol brasileiro.
Assim, aproveitei um deslocamento pela cidade para registrar o Estádio e um pouco da centenária história do União dos Operários FC.

O União dos Operários FC foi inaugurado em 1º de maio de 1917, uma data cheia de significados para a cidade de São Paulo.
Pra entender o “caldo cultural” da sua fundação, precisamos voltar ao fim do século XIX, quando São Paulo passa a se industrializar e a receber milhares de operários vindos especialmente da Itália, Espanha e Portugal.
A foto abaixo registra a hospedaria dos imigrantes da época e onde funciona atualmente o Museu da Imigração / Memorial do Imigrante:

Muitos deles trouxeram consigo uma formação anarquista, com influência de pensadores como Bakunin, Kropotkin e Malatesta, que defendiam conceitos como a autogestão dos trabalhadores, ação direta (greves, boicotes, ocupações) como forma legítima de luta e a solidariedade de classe, sem depender de partidos políticos ou do Estado.

Tradicionalmente, no feriado de 1º de maio, sindicatos e associações operárias organizavam atos e comícios em São Paulo para reivindicar melhores condições de trabalho. Com a Primeira Guerra, houve um o aumento do custo de vida e do número de pessoas passando fome pelas periferias da capital, fazendo com que a manifestação de 1º de maio de 1917 não fosse apenas uma comemoração, mas um verdadeiro ato político, organizado em boa parte pelos sindicatos libertários e pelos grupos autônomos de trabalhadores. Foto do site do PCB:

Como sempre, o Estado reagiu e a forte repressão policial assassinou o operário Antonio Martinez.
Com isso, as reivindicações se transformaram em uma greve geral autogerida, levando mais de 50 mil pessoas às ruas da cidade.
Comitês de bairro, cozinhas coletivas e decisões tomadas em assembleias abertas tornaram-se parte do cotidiano da cidade.

Embora a greve tenha sido duramente reprimida, ela deixou marcas profundas, consolidando o 1º de maio como dia de luta, reforçando a presença do anarquismo no imaginário político brasileiro mostrando que era possível organizar trabalhadores sem partidos ou líderes hierárquicos.
Com a chegada do governo de Getúlio Vargas, e uma série de ações populistas, como a legislação sindical corporativa, o anarquismo perdeu espaço institucional.
Mas, o próprio União dos Operários fica como legado até os dias atuais.

A sede do clube e seu estádio ficam localizados no Belenzinho, próximo da Ponte de Vila Maria e nasceu idealizado por operários da região.

Com tanta história, dá até emoção de pisar em um campo que há mais de 100 anos está dedicado não só ao futebol como ao futebol operariado, oferecendo abertura aos trabalhadores que muitas vezes não tem essa oportunidade.

Além do campo, existe uma estrutura dedicada a outros esportes e ao social no clube, como se pode ver ali atrás do gol da direita:

Sua arquibancada de madeira é simples, mas muito charmosa. Me pergunto se algo dessa estrutura ainda é original…

Ao fundo do gol da esquerda, um estacionamento, item importante nos dias de hoje:

E aqui, o meio campo, com algumas belas árvores ao fundo.

Minha dúvida, ao ver o mapa de 1958, é que aparentemente não havia campo ali, mas haviam outros campos ali pra baixo:

Veja o mapa atual e perceba ue apenas o campo da Camisa 12 segue ali abaixo do Estádio do União dos Operários FC.

Um pouco do que rolou na mídia relacionado ao time, começando lá em fevereiro de 1921 quando o time se limitava aos amistosos e à várzea (detalhe importante é que o adversário AA Estrela de Ouro já disputava os campeonatos da FPD daquele ano):

Agora pra falar de sequência do time, vou usar como base as informações do livro “Esquecidos”, o velho testamento do futebol paulista.

No livro, entendi que após a fase de amistosos e disputas não oficiais, em 1927, o União dos Operários Futebol Clube passou a disputar a Série Principal da Segunda Divisão da LAF, vencendo 2 jogos (2×1 frente o CA Brasil, 2×1 no Húngaro Paulistano) e empatando em 2×2 frente o CA Tiradentes, antes de abandonar o campeonato se transferir para a APEA.

Assim, no ano seguinte, em 1928, passou a disputar a Divisão Municipal da APEA (acima dela estava a Divisão Especial, a 1ª e a 2ª divisão).

Em 1929, passa a disputar a Segunda Divisão da APEA:

Em 1930, teve uma boa participação na segunda divisão da APEA, terminando na 5ª colocação:

Em 1931, o União dos Operários foi vice campeão da segunda divisão da APEA!

Com a boa colocação, no ano seguinte em 1932, o União foi disputar a primeira divisão da APEA, que equivalia ao segundo nível do futebol paulista, não se confunda…
Ainda existia a Divisão Especial, onde o Palestra Itália sagrava-se campeão.

Campeonato de 1933:

O Campeonato de 1934 marca a despedida do União dos Operários dos campeonatos organizados pelas diferentes Federações.

Mas, fuçando um pouco pelos jornais, encontrei alguns registros de aventuras do time como aqui, em 1955, fazendo o jogo de abertura de um Portuguesa x Palmeiras:

Em 1957, o Palmeiras participou da celebração do aniversário do time:

Enfim… O mundo mudou, o time mudou, mas seu distintivo segue vivo no campo em que estivemos, que talvez nem seja o mesmo do seu início…
Mas a história dos operários segue viva no esporte!

APOIE O TIME DA SUA CIDADE!!!

A Associação Caboverdeana do Brasil está em festa!

A seleção de Cabo Verde se classifica para a Copa do Mundo 2026

Em outubro de 2025, o futebol teve mais um tabu quebrado: Cabo Verde, os “Tubarões Azuis”, entrou para o hall das seleções que garantiram vaga inédita para a Copa do Mundo de 2026.

Para termos ideia de como a notícia repercutiu entre o povo caboverdeano, fomos, eu, Artur e a Luca, até a sede da Associação Caboverdeana do Brasil, que fica em Santo André para conversar um pouco com o pessoal!

Pra começar, vamos conhecer o pessoal que nos recebeu tão bem lá na Associação:

A sede da ACB (Associação Caboverdeana do Brasil) é muito legal e cheio de imagens que resgatam um pouco da cultura do país.

Muitos não sabem, mas Cabo Verde foi colônia portuguesa e por isso tem como língua oficial o Português, mas ainda assim é muito pouco conhecido no Brasil.
Porém, a vitória contra a seleção do Essuatíni, na última rodada das Eliminatórias fez com que as coisas mudassem demais!

E a gente entrou no clima!

Mas o pessoal da ACB tem muita história pra dividir com a gente, não só sobre o futebol mas como se deu a vinda dos caboverdeanos para o Brasil:

A presidente da Associação também esclareceu um pouco mais sobre a cultura caboverdeana e as semelhanças e diferenças com a cultura brasileira.

Também descobrimos que existe uma Associação em Santos:

E deu pra falar de futebol local também e aprender que o processo de imigração é a base da atual seleção de Cabo Verde

A conquista da seleção de futebol de Cabo Verde representa um dos capítulos mais inspiradores do futebol africano.
O país, formado por um pequeno arquipélago no Atlântico, iniciou sua trajetória internacional em 1978, após a independência de Portugal.
E você conhece esse arquipélago?

O papo rendeu, deu pra perguntar sobre questões mais difíceis como racismo…

E finalizamos o nosso papo ouvindo um pouco do dialeto crioulo!

Por décadas, Cabo Verde enfrentou limitações estruturais e econômicas, mas construiu uma identidade marcada pela garra e pelo talento de jogadores espalhados pelo mundo.
O ponto de virada veio nos anos 2010, com a primeira participação na Copa Africana de Nações em 2013, quando surpreendeu o continente ao chegar às quartas de final.

Importante ressaltar que com a classificação para a Copa de 2026, Cabo Verde tornou-se a segunda menor nação a qualificar-se para uma Copa do Mundo, (população de pouco menos de 525.000 pessoas) superada apenas pela Islândia (cerca de 334.000 pessoas) que disputou a edição de 2018, na Rússia.
Fica nosso agradecimento ao pessoal da ACB e um abraço especial pros jovens Artur e Luca que fizeram o rolê acontecer!

APOIE O TIME DA SUA CIDADE!!!