Mais um número redondo, 15 anos depois da camisa #1, do EC Santo André! A camisa#200 também precisava ser especial e por isso escolhi a do Serrano Athlético Clube. Pros chatos de plantão, óbvio que não é uma camisa oficial, mas comemorativa, lançada pelo amigo Flávio Mendes de Oliveira em um projeto bem bacana.
Vale lembrar que estivemos por várias vezes no estádio do Serrano Athlético Clube, o “Estádio da Vila Inglesa“, lá em Paranapiacaba.
O Serrano Athlético Clube foi fundado em 3 de dezembro de 1903 por um grupo de ingleses trabalhadores da estrada de Ferro, a São Paulo Railway. Pode ser que Charles Miller tenha jogado em seu campo…
Logo o time começa a disputar amistosos e competições regionais.
Em 1930, segundo as pesquisas do amigo Julio Bovi Diogo, o time disputou o Campeonato Citadino de Santos:
Em 1936, o Serrano Athletico Clubse fundiu com o clube Recreativa Lyra da Serra (também de 1903). Surge então o União Lyra da Serra que teria longa vida social junto ao distrito e também no âmbito do futebol.
Sempre tive uma relação especial com a cidade de Ribeirão Pires. Desde a época em que estudava na ETE Lauro Gomes, depois com o rolê punk e atualmente graças a essa figura chamada Nélson, um grande amigo de arquibancada e da vida que nos convidou para registrar o Estádio Felício Laurito , a casa do Ribeirão Pires FC!
Ribeirão Pires é mais um território que teve grande presença indígena e provável palco dos encontros dos portugueses com João Ramalho e os tupiniquins. Quando da fundação de São Paulo, a cidade de Santo André acabou abandonada e assim a região em geral acabou meio esquecida, limitando-se a ponto de passagem.
Somente no século XVII, a região do ABC volta a se desenvolver, Ribeirão era denominada de Caaguaçu (“mata alta” em tupi guarani). O futuro nome da cidade foi homenagem à família de Antonio Pires de Avila, que chegou à região no início do século XVIII, 2 anos depois da construção da Igreja de Nossa Senhora do Pilar.
Se pelo interior do estado, o café transformou as paisagens com suas grandes plantações, Ribeirão Pires teve uma influência indireta: no século XIX, para escoar o café para o porto de Santos, foi construída a ferrovia São Paulo Railway passando pela região dando origem a uma série de madeireiras e olarias. Em 1885 surge a pequena estação de Ribeirão Pires.
Somente em 1896, foi criado o distrito de Ribeirão Pires, aqui uma imagem de 1905:
Em 1953, Ribeirão Pires se emancipou tornando-se município autônomo. Atualmente é uma estância turística e tem se desenvolvido de modo diferente da história industrial que caracteriza a região.
Mas, como não poderia ser diferente, a cidade possui uma grande paixão futebolística: o Ribeirão Pires FC.
Na verdade, o primeiro time da cidade foi o CA Internacional fundado em 8 de julho de 1911, mas que acabou mudando de nome para Ribeirão Pires Futebol Clube, em 19 de maio de 1912.
Aqui, o time que defendeu a camisa do Ribeirão Pires FC em 1918:
Embora o trabalho inicial fosse focado na constituição do clube, em 1919, o Ribeirão Pires FC entra para a história ao disputar o primeiro campeonato da região, ao lado de: Serrano, Brasil, AA São Bernardo, São Caetano EC, Primeiro de Maio FC (que jogou como União Team por estar filiado à APEA naquele ano) e do Corinthians FC que sagrou-se campeão, recebendo Taça Senador Fláquer.
Esse foi o time que jogou o campeonato de 1919:
A partir daí, o RIbeirão Pires FC passou a disputar vários jogos e campeonatos importantes não só na região, como partidas na capital e em Santos e como o futebol ganhava visibilidade, em março de 1923 começa a ser construído um novo campo de futebol, nas proximidades da rua Major Cardim.
Esse era o time de 1923:
Em 1926 filia-se à Liga de Amadores de Futebol em 1927 debuta em competições oficiais jogando a Série Principal da Divisão Santista da LAF,mas abandonou a competição e acabou desclassificado.
Alguns dos resultados dessa competição:
10/4 – Palestra Itália de Santos 1×3 Ribeirão Pires FC
3/5 – A. Santista Extra 0x1 Ribeirão Pires FC
3/7 – Ribeirão Pires FC 0x2 Brasil FC
Em 1927, disputa um amistoso contra a A. Portuguesa, como registrou a página de “sports” do Correio Paulistano de 4 de junho daquele ano:
Em 5 de agosto de 1934 vai até Bragança Paulista enfrentar o EC Bragantino, com o time abaixo:
Em 1936, um levantamento feito neste ano mostra que o time jogou 556 partidas, com 352 vitórias e 136 empates. E esse foi o time:
Em 1940, o Ribeirão Pires FC mandava seus jogos no campo situado ao lado da Rua Capitão José Galo, ao lado do prédio do Fórum. É ali que, em 1943, disputa o Campeonato Paulista do Interior. O time que fez história é esse:
Aí está o grupo da 26a região, onde estava o Ribeirão Pires FC:
Aqui, alguns dos atacantes deste time histórico: Pinheiro, Caetano, Tuiti, João e Turelli:
Se até então as sedes se mostraram sempre provisórias, em imóveis emprestados, em 1947 foi comprado a área onde atualmente está o Ribeirão Pires FC e que só seria inaugurada em 1978:
Em 1949, sagra-se campeão invicto da Liga Santoandreense, mas o início dos anos 50 foram dedicado à construção do Estádio Felício Laurito, inaugurado em 15 de novembro de 1956 em um jogo contra o Palmeiras. A equipe paulistana venceu por 4 x 2, mas o dia foi de festas, como se vê na foto abaixo:
Aqui, uma imagem do dia do jogo:
Por um período, logo após a construção do Estádio Felício Laurito (na foto abaixo, do lado direito), os dois campos de futebol continuaram em atividade, enquanto o “campo velho” era usado pra treino e emprestado para outros clubes, o novo Estádio era reservado para os jogos do Ribeirão Pires FC.
Em 1960, o Ribeirão Pires FC sagrou-se campeão municipal invicto!
As fotos acima foram retiradas do incrível livro: “Sob a luz de um lampião nasceu o Ribeirão”, de Roberto Bottacin (aqui nesse link da estante virtual até hoje cedo, ainda havia um por meros R$ 9,90!!!)
Encontrei algumas imagens, que confesso ter perdido a fonte (se você for o dono, me avisa e eu dou o crédito) que registram outros esquadrões:
Enfim, depois de tanta teoria, vamos à prática! Um rolê pelo Estádio Felício Laurito ao lado dos amigos Gó e Nelsão!
Então é hora da nossa tradicional imagem do estádio, começando pelo meio campo:
O gol da direita:
E o gol da esquerda:
E um olhar geral sobre esse lindo Estádio!
O Estádio está literalmente dentro do clube, então tem uma série de cuidados que normalmente não veríamos em outros campos, como esses bancos de onde se pode assistir os jogos:
Junto ao campo há também uma pista de atletismo:
Lááá do outro lado, estão os bancos de reserva.
Esta é a arquibancada de onde tirei as fotos do campo.
Olhando lá do outro lado, as imagens “invertidas”, esse é o gol da direita (atrás dele está o ginásio do RPFC).
O meio campo, tendo as arquibancadas como destaque:
E o gol da esquerda com o salão social ao fundo.
E aí os 3 patetas…
O entorno do estádio possui vários detalhes e muitos cuidados dando um ar todo especial ao lugar…
Encontrei até uma versão antiga do distintivo antigo em uma das portas:
Olha aí um adesivo declarando o amor ao clube…
E o que dizer dessa sala de troféus? Quanta história está aí registrada?
Aproveitamos ainda para dar uma olhada na quadra de futsal.
O futsal é bastante valorizado no RPFC!
Arquibancadas em dia!
E assim, com mais um estádio registrado, voltamos para casa com a certeza da missão cumprida!
Há tempos que estou devendo um registro oficial aqui no blog sobre um dos lugares mais místicos em relação ao futebol brasileiro: Paranapiacaba, a serra de onde se vê o mar (se a neblina deixar)!
Chegamos lá cedinho, pra poder curtir um pouco da cidade (a tarde teríamos o jogo entre Santo André e Goiás, pela Copa do Brasil – 2013).
Pra quem não conhece, Paranapiacaba é um distrito, que pertence a Santo André (embora seu território não esteja dentro da cidade).
A história do lugar começou com a chegada da Companhia Inglesa de trens, a São Paulo Railway, que operava a estrada de ferro Santos-Jundiaí.
Atualmente é um “museu a céu aberto” sobre o transporte ferroviário.
Essa era a antiga casa do “Chefe a estação”, onde atualmente funciona o museu da Vila. Dizem que o lugar, chamado de castelinho, é mal assombrado.
A maior parte das bandas do ABC já utilizou o local para fazer fotos. Também, olha as coisas que você acha por lá…
O mais louco é a mistura entre esse cenário tão maquinário e a natureza, da mata atlântica.
Mas, nosso papo é sobre futebol, então é hora de conhecer o Serrano Athletico Club, o time local, fundado em 1903.
Aqui em uma foto de 1929:
Existe uma lenda, passada oralmente entre as gerações de que em 1925, o Serrano AC derrotou o já poderoso Corinthians por 2×1. Existe até um troféu exposto que seria a prova de tal feito (foto de Fabrício Martinez):
Anos depois, o time passou por uma fusão com o União da Sociedade Recreativa Lira da Serra e transformou-se no Clube União Liga Serrano, com uma bela sede construída na década de 1930.
Nesse mesmo ano de 1930, segundo as pesquisas do amigo Julio Bovi Diogo, o time disputou o Campeonato Citadino de Santos:
Olha o time dos anos 40:
Aqui, uma foto do time, no início dos anos 60:
Olha o time juvenil de 1965, em foto obtida pelo amigo Ozires Alves Rodrigues:
Mas onde eram disputadas estas partidas? Onde os funcionários da São Paulo Railway disputram jogos ainda no final do século XIX? Apresentamos o “Estádio Vila Inglesa“, o campo do Serrano, um dos primeiros do Brasil!
O campo fica na Avenida Fox, s/nº e é responsável por outra lenda que circula nas ruas da vila: a de que Charles Miller teria jogado nesse campo, em 1894 com outros funcionários da São Paulo Railway.
Pelo valor histórico, o campo está muito abandonado, mas sabemos que não é fácil, principalmente porque quase tudo na Vila está tombado como patrimônio cultural.
Aqui algumas fotos do campo, de uma outra visita que havíamos feito:
Olhando do banco de reservas (ou da arquibancada) este é o gol do lado esquerdo:
E este do lado direito:
E aqui o campo com a vila ao seu redor:
O campo da Vila presenciou ainda vários outros jogos do Serrano Athletico Clube contra times da época.
Quantos gols já teriam sido marcados aqui? Quantos sonhos este campo teria alimentado? A arquibancada singela ao fundo segue preparada para receber torcedores que queiram assistir a um jogo amador, e reviver parte do passado do futebol no Brasil.
Olha que foto bonita disponibilizada no site da Prefeitura:
E quando menos se espera, lá vem ela… a neblina! Cobrindo histórias, campos, trens…
É, sem dúvida, um grande espetáculo da natureza!
Em questão de minutos, o sol sumiu e o que se viu, ou melhor, não se viu… foi a neblina cobrir toda a Vila.
Pra quem gosta de objetos, design antigo e imagens diferentes, Paranapiacaba é um espetáculo!
Muitos destes objetos estão ali há quase um século…
E lá de cima, nos despedimos de mais um local histórico e nos encaminhamos para Santo André novamente…
Uma pena que os trilhos que levam até a vila estejam cada vez menos utilizados (apenas para transporte de cargas e trens turísticos, com passagens mais caras).