#TBT: Treta no futebol andreense

O ano era 1968… Em uma tarde distante, uma partida colocou frente a frente dois times feras daquele ano, de um lado o Santo André FC, que viria a se tornar o EC Santo André, campeão da Copa do Brasil de 2004, do outro, EC Elclor, o time da Vila Elclor.

A Vila Elclor nasceu no entorno das “Indústrias Químicas Eletrocloro” que chegou ao ABC em 1941, produzindo soda, cloro e hipoclorito de sódio, e hoje faz parte do grupo Solvay – Unipar.

A Vila Elclor foi construída num lugar bem bucólico, no quilômetro 38 da estrada de ferro Santos-Jundiaí, para abrigar os trabalhadores da indústria.

Logo surgiram pequenos comércios, uma escola (inaugurada em 1958), linhas de ônibus que atendiam a vila e até mesmo uma estação de trem!

Porém, a grande animação veio quando foi construído um pequeno estádio, que seria a casa do EC Elclor, o principal time da vila! As imagens abaixo foram retiradas do vídeo de chegada do papai noel que está no Grupo de Facebook Vila Elclor:

Aqui, duas fotos do time de 1960, a primeira, da delegação que foi até Itamonte-MG para um amistoso:

A vila ainda existe, pertence à Santo André e fica entre Rio Grande da Serra e Paranapiacaba.

Aqui, dá pra ter ideia do local, no mapa:

Na foto abaixo, do Grupo Vila Elclor do Facebook, mostra onde ficava o campo (ali na parte superior direita):

Sem grandes sonhos, nem prestígio, mas com bons empregos e qualidade de vida para a época, algumas pessoas acabavam se sentindo um pouco desprezada pelos que viviam no centro da cidade. Ao mesmo tempo, foi crescendo nos moradores o sentimento de pertencimento e uma relação de amor e pela VilaElclor.

Amor, porque tudo o que se vivia girava em torno da indústria, sendo natural a gratidão pela oportunidade, mas ao mesmo tempo, a noite, antes de dormir, vários sonhos inalcançáveis vinham à mente das pessoas e aí ficava clara a ideia de que na verdade, estavam presos aquele lugar.

A estação de trem facilitava a chegada e saída de pessoas e também de times de outras cidades e até do interior, com isso alguns times tradicionais acabaram aparecendo pela vila pra jogar contra o EC Elclor.

O time começou a ganhar expressão e disputando principalmente com os times de Ribeirão Pires, que ficavam mais próximos.

Esse é o Cocada, ex jogador do EC Elclor:

Mas a grande sensação daquele ano era o recém criado “Santo André FC“, time profissional fundado em 1967. Mais do que um time, eles representavam a “outra” Santo André, cheia de planos e sonhos. Um time que na semana seguinte disputaria o Campeonato Paulista Profissional… Foto do site da Ramalhonautas.

E naquela tarde, os canarinhos (o Santo André FC jogava de amarelo e verde) seriam os visitantes a serem combatidos de toda maneira! Na hora do jogo, 300 pessoas se reuniram para torcer pelo time da casa!

Em campo, o time local jogava a partida da vida, não com foco na vitória, mas tentando se impor fisicamente e literalmente sentando a porrada a cada jogada e cada disputa.

Mesmo assim, o Santo André FC estava bem preparado e fez 1×0 em cobrança de falta de Zé Roberto aos 30 minutos.

Mas o preço pago foi caro, o goleiro Dorival (foto abaixo) e o meia Nilo acabaram saindo de campo machucados.

O segundo tempo começou e a violência continuou. Mas o time do Parque Jaçatuba não era bobo e também batia. O clima estava tão ruim que aos 38 minutos do segundo tempo, uma treta generalizada fez com que o árbitro Jovercino Gomes encerrasse a partida.

Dê uma lida na matéria sobre a partida:

O clima continuou pesado pela vila, com muita pressão feita não apenas pelos torcedores mas agora nas ruas pela população em geral que sabia da partida e da presença dos vizinhos. Só restou aos jogadores do Santo André FC se arrumarem rapidamente e rumarem para a estação de trem para voltar pra casa.

Enquanto o O EC Elclor ainda seguiu nas disputas amadoras da região, como em 1970, quando foi campeão dos aspirantes de Ribeirão Pires. Mas, acabou deixando de existir como time oficial.

A Vila segue por lá, mas sem a mesma emoção dos tempos de outrora, mas não ouse desafiar um time local para uma peleja…

Só não fique glorificando os tempos da Elclor, como se ela fosse uma iniciativa positiva em nossa região, porque apesar dos empregos, veja um pouco do legado deles:

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O futebol em Ribeirão Pires

Sempre tive uma relação especial com a cidade de Ribeirão Pires. Desde a época em que estudava na ETE Lauro Gomes, depois com o rolê punk e atualmente graças a essa figura chamada Nélson, um grande amigo de arquibancada e da vida que nos convidou para registrar o Estádio Felício Laurito , a casa do Ribeirão Pires FC!


Ribeirão Pires é mais um território que teve grande presença indígena e provável palco dos encontros dos portugueses com João Ramalho e os tupiniquins. Quando da fundação de São Paulo, a cidade de Santo André acabou abandonada e assim a região em geral acabou meio esquecida, limitando-se a ponto de passagem.

Somente no século XVII, a região do ABC volta a se desenvolver, Ribeirão era denominada de Caaguaçu (“mata alta” em tupi guarani). O futuro nome da cidade foi homenagem à família de Antonio Pires de Avila, que chegou à região no início do século XVIII, 2 anos depois da construção da Igreja de Nossa Senhora do Pilar.

Se pelo interior do estado, o café transformou as paisagens com suas grandes plantações, Ribeirão Pires teve uma influência indireta: no século XIX, para escoar o café para o porto de Santos, foi construída a ferrovia São Paulo Railway passando pela região dando origem a uma série de madeireiras e olarias. Em 1885 surge a pequena estação de Ribeirão Pires.

Somente em 1896, foi criado o distrito de Ribeirão Pires, aqui uma imagem de 1905:

Em 1953, Ribeirão Pires se emancipou tornando-se município autônomo. Atualmente é uma estância turística e tem se desenvolvido de modo diferente da história industrial que caracteriza a região.

Mas, como não poderia ser diferente, a cidade possui uma grande paixão futebolística: o Ribeirão Pires FC.

Na verdade, o primeiro time da cidade foi o CA Internacional fundado em 8 de julho de 1911, mas que acabou mudando de nome para Ribeirão Pires Futebol Clube, em 19 de maio de 1912.

Aqui, o time que defendeu a camisa do Ribeirão Pires FC em 1918:

Embora o trabalho inicial fosse focado na constituição do clube, em 1919, o Ribeirão Pires FC entra para a história ao disputar o primeiro campeonato da região, ao lado de: Serrano, Brasil, AA São Bernardo, São Caetano EC, Primeiro de Maio FC (que jogou como União Team por estar filiado à APEA naquele ano) e do Corinthians FC que sagrou-se campeão, recebendo Taça Senador Fláquer.

Esse foi o time que jogou o campeonato de 1919:

A partir daí, o RIbeirão Pires FC passou a disputar vários jogos e campeonatos importantes não só na região, como partidas na capital e em Santos e como o futebol ganhava visibilidade, em março de 1923 começa a ser construído um novo campo de futebol, nas proximidades da rua Major Cardim.

Esse era o time de 1923:

Em 1926 filia-se à Liga de Amadores de Futebol em 1927 debuta em competições oficiais jogando a Série Principal da Divisão Santista da LAF, mas abandonou a competição e acabou desclassificado.

Alguns dos resultados dessa competição:

  • 10/4 – Palestra Itália de Santos 1×3 Ribeirão Pires FC
  • 3/5 – A. Santista Extra 0x1 Ribeirão Pires FC
  • 3/7 – Ribeirão Pires FC 0x2 Brasil FC

Em 1927, disputa um amistoso contra a A. Portuguesa, como registrou a página de “sports” do Correio Paulistano de 4 de junho daquele ano:

Em 5 de agosto de 1934 vai até Bragança Paulista enfrentar o EC Bragantino, com o time abaixo:

Em 1936, um levantamento feito neste ano mostra que o time jogou 556 partidas, com 352 vitórias e 136 empates. E esse foi o time:

Em 1940, o Ribeirão Pires FC mandava seus jogos no campo situado ao lado da Rua Capitão José Galo, ao lado do prédio do Fórum. É ali que, em 1943, disputa o Campeonato Paulista do Interior. O time que fez história é esse:

Aí está o grupo da 26a região, onde estava o Ribeirão Pires FC:

Aqui, alguns dos atacantes deste time histórico: Pinheiro, Caetano, Tuiti, João e Turelli:

Se até então as sedes se mostraram sempre provisórias, em imóveis emprestados, em 1947 foi comprado a área onde atualmente está o Ribeirão Pires FC e que só seria inaugurada em 1978:

Em 1949, sagra-se campeão invicto da Liga Santoandreense, mas o início dos anos 50 foram dedicado à construção do Estádio Felício Laurito, inaugurado em 15 de novembro de 1956 em um jogo contra o Palmeiras. A equipe paulistana venceu por 4 x 2, mas o dia foi de festas, como se vê na foto abaixo:

Aqui, uma imagem do dia do jogo:

Por um período, logo após a construção do Estádio Felício Laurito (na foto abaixo, do lado direito), os dois campos de futebol continuaram em atividade, enquanto o “campo velho” era usado pra treino e emprestado para outros clubes, o novo Estádio era reservado para os jogos do Ribeirão Pires FC.

Em 1960, o Ribeirão Pires FC sagrou-se campeão municipal invicto!

As fotos acima foram retiradas do incrível livro: “Sob a luz de um lampião nasceu o Ribeirão”, de Roberto Bottacin (aqui nesse link da estante virtual até hoje cedo, ainda havia um por meros R$ 9,90!!!)

Encontrei algumas imagens, que confesso ter perdido a fonte (se você for o dono, me avisa e eu dou o crédito) que registram outros esquadrões:

Essa é do Jornal Mais Notícias e apresenta o time juvenil de 1965:

Enfim, depois de tanta teoria, vamos à prática! Um rolê pelo Estádio Felício Laurito ao lado dos amigos Gó e Nelsão!

Então é hora da nossa tradicional imagem do estádio, começando pelo meio campo:

O gol da direita:

E o gol da esquerda:

E um olhar geral sobre esse lindo Estádio!

O Estádio está literalmente dentro do clube, então tem uma série de cuidados que normalmente não veríamos em outros campos, como esses bancos de onde se pode assistir os jogos:

Junto ao campo há também uma pista de atletismo:

Lááá do outro lado, estão os bancos de reserva.

Esta é a arquibancada de onde tirei as fotos do campo.

Olhando lá do outro lado, as imagens “invertidas”, esse é o gol da direita (atrás dele está o ginásio do RPFC).

O meio campo, tendo as arquibancadas como destaque:

E o gol da esquerda com o salão social ao fundo.

E aí os 3 patetas…

O entorno do estádio possui vários detalhes e muitos cuidados dando um ar todo especial ao lugar…

Encontrei até uma versão antiga do distintivo antigo em uma das portas:

Olha aí um adesivo declarando o amor ao clube…

E o que dizer dessa sala de troféus? Quanta história está aí registrada?

Aproveitamos ainda para dar uma olhada na quadra de futsal.

O futsal é bastante valorizado no RPFC!

Arquibancadas em dia!

E assim, com mais um estádio registrado, voltamos para casa com a certeza da missão cumprida!

APOIE O TIME DA SUA CIDADE!

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