
Janeiro de 2025.
Começo o ano me sentindo muito agradecido pela oportunidade desse rolê, em uma realidade onde tanta gente sequer garante grana para a nutrição básica…
Fizemos de tudo para que a viagem ao Chile fosse inesquecível e vamos compartilhar um pouco das aventuras futebolísticas desse rolê, começando com a histórica e badalada Viña del Mar e o Estádio Sausalito, a casa do Everton!

Saímos de Santiago e uma ótima estrada nos levou à Viña del Mar em pouco mais de uma hora.

Interessante como as manifestações políticas seguem presentes pelas cidades que visitamos…

Logo, estávamos pelas ruas e praias, curtindo a cidade!

Poucas vezes falamos da história do outro lado do nosso continente, e óbvio que não dá pra resumir isso em um post sobre o futebol…

O Chile se divide em 16 regiões e Viña del Mar fica na região de Valparaíso.
Sua história moderna começa com a chegada dos espanhóis no Valle de Peuco, nome original da região.
Há mais de 7 mil anos, o lugar já era habitado pelos Changos, povo que vivia da pesca, caça, mariscos e dos benefícios do litoral, fabricando balsas com o couro de lobo marinho.

Os Changos não enfrentaram um extermínio direto como aconteceu com outras civilizações mas os espanhóis causaram seu declínio invadindo seu território, trazendo doenças como varíola, sarampo e gripe, além de desestruturar sua organização social, usando-os como mão de obra e acabando com sua cultura local, sendo forçados a adotar a religião cristã, entre outras deturpações.
E claro, também houve conflitos e mortes nesta relação.
Somente no século XXI os Changos foram reconhecidos como povo originário Chileno.

Após a ocupação dos territórios, os espanhóis dividiram a regi˜ão em duas grandes propriedades: as “Sete Irmãs” e “La Viña del Mar“.
As terras acabaram nas mãos de uma única herdeira (Mercedes Álvarez), casada com José Francisco Vergara, que elaborou o projeto de fundação da cidade de Viña del Mar, em 1874.
Logo algumas famílias começaram a construir ali suas casas de campo, e durante o verão, a elite de Santiago se mudava para Viña del Mar para curtir o clima da praia.
E que clima gostoso…

O sol quente na cabeça, e a água chegando para refrescar nossos pés…

Que água geladaaaa!!!! Bem vindo ao Oceano Pacífico…

Acabei aprendendo a curtir a praia de um jeito diferente. Eu que sou acostumado a ficar no mar o tempo todo, aprendi a caminhar e a curtir o visual…


Durante nossa estadia, a mãe natureza nos presenteou com uma ressaca monstra, chamada localmente de “Marejada”, que deu uns visuais incríveis mas um pouco assustadores kkk.



A vida noturna da cidade é bem animada, e o frio da noite é compensado por estas mantas distribuídas em um dos restaurantes que fomos beira mar…


Ah, e tem também o tradicionalíssimo relógio de flores, que traz milhares de turistas à cidade ano após ano.
Outra diversão da galera é essa: empilhar pedras!

Encontramos algumas feirinhas pra ficar naquele clima de Nordeste que todo brasileiro ama!

Viña del Mar também está repleta de… abelhas gigantes, do tamanho de besouros!

Ah, e passamos a virada do ano na beira da praia, com direito a um belo show de fogos de artifício silenciosos, só não deu pra pular as ondinhas…



Pô, e ainda tem o incrível Museu Fonck, dedicado à arqueologia e à história, inaugurado em 1937, com peças de culturas originárias do Chile, como os Mapuches, Diaguitas, Atacamños, Rapanui entre outros.
Ah, e desde 1951 existe uma estátua monolítica de pedra Moai da Ilha de Páscoa.

Um pouco do que você verá por lá:



Esse mapa me roubou o coração, ele mostra a geografia dos povos originários do Chile:

Mas deixemos um pouco de lado os atrativos naturais e culturais de Viña para mergulhar no nosso principal tema: o futebol na cidade, materializado pelo principal time, o Everton de Viña!

O Everton de Viña del Mar foi fundado por imigrantes ingleses, em 24 de junho de 1909, na cidade vizinha de Valparaíso. O nome é uma homenagem ao time homônimo inglês que em janeiro daquele ano esteve excursionando pela América do Sul:

Em 1922, se constitui como equipe de futebol (Foto do site Equipos de futbol):

Em 1935, uma decisão polêmica: o time transfere-se para a cidade vizinha de Viña del Mar o que acirrou ainda mais a rivalidade com o Santiago Wanderers (que se mantém de 1916 até hoje em Valparaíso).
O dérbi ficou conhecido como Clásico Porteño.

O Everton esteve em recesso entre 1936 e 1943, e só então passou a disputar a liga profissional. Na década seguinte teve suas maiores conquistas, começando com o Campeonato Nacional de 1950 (foto da revista Estadio, disponível no site EverForever).

Logo depois, veio o bicampeonato em 1952 (fotos da revista Estadio e do Centenário Everton). Claro que o que vem à cabeça vendo as fotos é “como a camisa parece a do Boca!”.


Durante os anos 1960 e princípios dos 1970, o clube viveu uma crise que acabou se materializando em um rebaixamento em 1972 (foto do canal Centenário Everton).

Mas com tamanho sucesso junto aos torcedores locais, o time acabou recebendo o apoio do cassino de Viña del Mar, e por isso são conhecidos como Los ruleteros.
Assim, já no ano seguinte, o time volta à primeira divisão.
E, em 1976, veio o terceiro campeonato chileno (foto do site Footballkitarchive):

Com o título, veio a oportunidade de participar da Libertadores de 1977, primeira vez em um torneio internacional, com uma campanha abaixo do esperado:

Depois de um período mediano, em 2000 vem um novo rebaixamento. Em 2003, sagra-se campeão da 2ª divisão e retorna à elite.

Foi novamente campeão chileno em 2008 (Apertura).

Em 2009, fez uma campanha na Libertadores melhor do que a de 1977, mas ainda assim não se classificou.

Em junho de 2016, o Everton teve 80% de suas ações compradas pelo Grupo Pachuca (dono do Pachuca Club de Fútbol e do Club León), mas o clube não conseguiu adquirir um protagonismo no futebol chileno, terminando 2024 na 7ª colocação.

O Everton manda seus jogos no Estádio Sausalito, localizado em Viña del Mar, e aproveitamos para fazer uma visita!

O Estádio Sausalito foi construído em 8 de setembro de 1929.
É bem curioso a forma com que eles utilizam os morros, com construções diferentes das que temos acostumado a ver e que tem como resultado um visual mais bonito. Essa fica bem na entrada do Estádio:

Além de ser a casa do Everton, o Sausalito foi sede do Grupo C da Copa do Mundo de 1952, que contava com Thechoslováqui, México, Espanha e o time que entraria pra história ao conquistar o bicampeonato mundial: Brasil, il il.


Sem mais demora, é hora de adentrar a mais um lugar sagrado do futebol sulamericano. Bem vindo ao Estádio Sausalito!
O Sausalito tem capacidade para cerca de 25 mil torcedores, mas já recebeu mais de 30 mil em algumas partidas do passado.

Olha aí o meio campo:


O gol da direita:

O gol da esquerda:

Aqui, o banco de reservas.

Aprovado pelo padrão As Mil Camisas de bancos de reserva!

O Brasil mandou os 3 jogos da primeira fase em Sausalito: Brasil 2×0 México, Brasil 0x0 Tchecoslováquia e Brasil 2×1 Espanha.

Olha que lindo esse vídeo do último jogo:
Além disso, recebeu a partida de quartas de final (Brasil 3×1 Inglaterra), e como se pode ver, o Estádio era bem diferente naquela época:

Além disso, o Estádio Sausalito foi sede da Copa América de 1991 e de 2015, bem como os Jogos Pan-americanos de 2023.
Seguindo as normas da FIFA, o Estádio todo está com cadeiras demarcando seus lugares.

Foi uma sensação curiosa, pensar que entrei praticamente pelo mesmo lugar que aquele timaço do Brasil entrou em 1962…


Na parte interna existe um mini memorial das competições que o Estádio recebeu.

Ao lado do Estádio existe um lindo lago que dá um visual único ao local!

Aqui, em foto da Fanpage Santiago do Chile para brasileiros:

Olha ele aqui na “vida real” (o sol nos prejudicou nessa última imagem kkkk 🙂
Mas enfim, concluo esse primeiro post sobre nosso rolê no Chile com a sensação de que curtimos o suficiente Viña del Mar, suas praias, museus e principalmente seu futebol… Gracias!

APOIE O TIME DA SUA CIDADE!!!
Rolê 2018 pelo interior paulista: Lucélia (parte 10 de 27)
Pra ser camisa 10 tem que ter responsabilidade! E assim tem que ser com o nosso post número 10 desse rolê de junho / 2018!
Depois de visitar e registrar estádios em Lençóis Paulista, Agudos, Gália, Garça, Vera Cruz, Oriente, Quintana, Osvaldo Cruz e Rinópolis) e dois jogos da Bezinha (4ª divisão paulista) em Andradina e em Tupã, enfim chegamos à Lucélia!

Atualmente, pouco mais de 21 mil pessoas vivem em Lucélia.



A cidade soube manter importante parte de sua arquitetura, tornando-a um lugar muito interessante para visitar.


E a cidade tem uma forte ligação com o futebol, afinal o futebol society, foi idealizado em Lucélia no ano de 1966, por Hamilton Di Stéfano e Paschoal Milton Lentini.
Desta idealização, surgiu o esporte que hoje é praticado em todos os Estados do Brasil.

Mas nosso objetivo era conhecer e registrar o Estádio Municipal José de Freitas Cayres.


Mais uma bilheteria para a nossa coleção de fotos.

Olha aí que bela arte ilustra a entrada do estádio:


E que tal dar uma volta lá dentro?
O Estádio Municipal José de Freitas Cayres era a casa do Lucélia Futebol Clube (brasão no site Gino Escudos).

O time foi fundado em julho de 1943, o que faz o time ser mais antigo que a própria cidade (emancipada em 1944).
O Lucélia FC já participou de 7 disputas de Campeonato Paulista entre a segunda e a quarta divisão, mandando seus jogos neste belo estádio!


O campo ainda possui sistema de iluminação:


Em 1950, o Lucélia FC se filiou à Federação Paulista de Futebol.
Em 1952, a equipe disputou a segunda divisão da época, enfrentando Linense, São Paulo de Araçatuba, Tupã, Bandeirante, Penapolense, 9 de Julho de Getulina e AA Adamantina.
A partir deste ano, muitos times vieram jogar amistosos em Lucélia para colaborar com a preparação do time, entre eles XV de Jaú, Marília, Noroeste, Ponte Preta, Palmeiras e o Corinthians do goleiro Gilmar dos Santos Neves.
Aqui, uma equipe dessa época:

Essa e outras fotos antigas você encontra no site: www.nossalucelia.com.br .
Anos depois, o time disputou duas edições da terceira divisão (1958 e 1959) e três da quarta divisão (1960, 1964 e 1965). Aqui, o time de 1962:

Olha como ficava lotada a arquibancada do Municipal:

Aqui mais fotos atuais do estádio, da nossa visita:

O gol segue lá, como maior objetivo de tantos artilheiros das ruas dessa pequena cidade…

O estádio tem seu nome em homenagem ao primeiro presidente do Lucélia FC: Manoel de Freitas Cayres.


A arquibancada coberta ainda aguarda o dia de reunir centenas de moradores locais gritando o nome do time da cidade!


O gramado sofre nessa época do ano com a seca, mas está muito bem cuidado.


E ainda possui um lance de arquibancada na lateral do campo.


Antes de irmos embora, descobrimos que o time (e a cidade) do Lucélia FC tem uma grande rivalidade com o time (e a cidade) do Rinópolis FC, graças à Copa Amnap (Copa da Associação de Municípios da Alta Paulista) de 2013 (que só foi acabar em 2014).
O primeiro jogo da final, terminou 1 a 0 para Lucélia, mas não foi realizado na casa dos rinopolenses, mandantes da partida, e sim em Piacatu (SP), por um veto do Corpo de Bombeiros ao estádio do município.
Já a segunda partida seria disputada com portões fechados, pois a organização alegou que havia indícios de briga entre as torcidas. A diretoria do time rinopolense não concordou com a decisão e disse que não compareceria à partida.
E assim, esse foi o time campeão, que ganhou a final por WO:

Hora de ir embora e seguir viagem…

APOIE O TIME DA SUA CIDADE!!!
O futebol da Associação Atlética Ferroviária de Botucatu

Estrada.
Sem dúvidas, minha vida é marcada pela estrada. Ir, voltar… A estrada materializa toda a minha vontade de permanecer em movimento.
Essas fotos são de julho de 2011, quando fomos até Assis, acompanhar o jogo do Assisense. Nosso destino? Siga em frente…
Botucatu era nossa meta antes de chegarmos em Assis. O grande objetivo era visitar o Estádio onde a lendária Ferroviária de Botucatu mandava seus jogos.

E lá estávamos nós, eu, a Mari e meu pai, que ultimamente tem estado em quase todas as visitas a Estádios…
O Estádio, localizado dentro do ainda ativo clube da Ferroviária, chama-se Dr. Acrísio Paes Cruz.
Ele foi inaugurado em 1945, época em que o futebol do interior paulista era fortíssimo e recheado de lendas, mitos e fábulas.

Época em que o futebol de Botucatu era uma potência local, como nos mostram as diversas fotos muito bem distribuídas pelo clube, colaborando com a manutenção da história local.
Encontrei algumas fotos de times antigos no site Acontece Botucatu:




Estar presente num local desses desperta dois sentimentos interessantes.
Primeiro, a satisfação de poder ao menos pisar em um lugar histórico para quem gosta de futebol.
Mas logo em seguida vem uma “saudade de algo que não vivi” que me dá vontade de voltar no tempo só pra ver como era um jogo por aqui…
Pra quem quer saber como é o estádio, como um todo, fiz um breve vídeo dele, confira:
Detalhe para as arquibancadas, de madeira, com mais de 50 anos de idade… É de se emocionar ou não? Incrível como o futebol ensina arquitetura, história…
E as arquibancadas parecem ter parado no tempo, como que aguardando o retorno dos tempos de glórias…

O clube parece ter se preocupado com o resgate da história e usa a imagem dos seus heróis para embelezar ainda mais o lugar!
Outro cuidado que pode se perceber é com o gramado. Ao menos na época da visita, estava muito bom!
E aí não tem jeito. Ao ver um clube assim com tanta história tão bem cuidado, vem na cabeça a manchete sonhada: “Ferroviária de Botucatu celebra seus 70 anos e disputará a série B do Campeonato Paulista“.
Ok! Algumas coisas do estádio, embora pitorescas e valiosas exatamente por isso, talvez precisem ser reformadas para um retorno ao profissionalismo…
Mas é olhar de novo pro campo e ver que a energia do futebol ainda paira sobre ele. Décadas de disputas, rivalidades, amor e ódio compartilhado nas arquibancadas de madeira que merecem ser reacesas!
Um distintivo, que embora homenageie o poderoso São Paulo, da capital, tem seu valor próprio!
Um céu azul, característico do interior de São Paulo que pede de volta os rojões e fogos de artifício avisando que a Ferroviária está de volta aos céus…
Bom… São apenas sonhos de uma pessoa que não acredita nesse progresso que invade todas as cidades do Brasil. Sonhos de alguém que fica feliz em ter mais uma foto em frente de um estádio, como se isso ajudasse a manter viva a história de um clube, de um esporte, de uma cidade, no fundo… sua própria história.
Olha o time da Ferroviária de 1958, as vésperas de um jogo contra a Ferroviária de Assis!

Olha que linda imagem de parte do time de 1966:

Além de tudo o tempo atual é cada vez mas curto e corre mais ligeiro. É hora de um último olhar para o campo.
Uma última memória, um último gol fantasiado, assim como meu irmão fazia no tapete com seus jogos de botão.
O registro daquele que me ensinou e daquela que me apoia nessa busca incessante.
Antes de ir, ali no piso, o adeus de um distintivo que quem sabe ainda voltará a brilhar no profissionalismo.
Privar uma cidade de um time de futebol no campeonato paulista, independente da série, é privá-la de uma expressão cultural importante. Por isso APOIE O TIME DA SUA CIDADE!
Hora de seguir adiante. Atravessamos a cidade, vendo que aos poucos a força mercantilista das grandes corporações como o “inofensivo Habib’s” começa a calar os pequenos botecos.
O futebol não é exceção. É reflexo. O mundo está mudando e pra pior. E vai seguir assim enquanto as poucas pessoas que pensam diferente e que não concordam com isso continuarem caladas. Mudar não é tão difícil quanto parece. Basta atitude. A estrada aliviaria meus pensamentos até Assis…






















