A Pista de Skate de São Bernardo fez e faz a cabeça de muita gente de São Bernardo. Fica ali pertinho da ETE, do Senai, do Shopping Metrópole e do Paço Municipal.
A pista ficou um tempo fechada para reformar e foi reinaugurada em 2019 com um baita show do Suicidal Tendencies (foto do site Bastidor Político):
O skate já faz parte da cultura da cidade há mais de 5 décadas, mas existe outra coisa que faz parte da vida do pessoal de São Bernardo: as montadoras de veículos.
E eu diria que o futebol n˜ão só é parte da cultura local, como também o é há ainda mais tempo que o skate e as montadoras. Tudo isso pra dizer que hoje falaremos de um time que seguiu uma tendência da época e nasceu dentro de uma das tais montadoras: o Volkswagen Clube!
O Volkswagen Clube foi fundado em 7 de maio de 1958 e seu apelido era o “Lobo da Anchieta”, sendo registrado em uma série de canecas da época:
Depois de 2 anos disputando competições amadoras e amistosos, o Volkswagen Clube estreou no profissionalismo em 1960 na quarta divisão e faz um belo campeonato, terminando a primeira fase atrás dos 2 times classificados: ADC Rigesa e o Cerâmica.
Com a boa performance foi convidado a disputar a 3ª divisão de 1961, que naquele ano tinha o nome de “Segunda Divisão”. Mais um bom campeonato, terminando em 3º lugar da sua série:
Os bons resultados levam a uma ação ousada: no final de 1961, o Volkswagen Clube compra o estádio do Irmãos Romano! O local era, inicialmente, um sítio que pertencia a Corsino Suster. Em 1950 o sítio foi vendido para Domingos João Balottin e posteriormente aos Irmãos Romano até chegar ao Volkswagen Clube.
Em 1962, mais uma vez joga o “terceiro nível”do Campeonato Paulista, e pela primeira vez se classifica para a segunda fase:
E chega empatado ao final da segunda fase, obrigando um primeiro jogo desempate com o Cerâmica de São Caetano. Após um 0x0 no primeiro jogo, um segundo jogo é marcado e dessa vez o time da Volkswagen perde por 2×0.
Olha aí o time de 1962:
Ainda em 1962, Pelé participou de uma partida contra o Volkswagen Clube:
Em 1963, uma campanha um pouco mais discreta elimina o time ainda na primeira fase.
Em 1964, o Volkswagen Clube lidera seu grupo (a 1ª série) e por isso muitos acabam se confundindo e dizendo que o time fora campeão paulista deste ano, o que não é verdade. Embora o título da região fosse muito celebrado, o Campeão Paulista da Terceira Divisão de 1964 foi o Taquaritinga.
Parte da confusão é por cota das fotos das faixas sendo entregues pela equipe do São Paulo FC em amistoso que a equipe da capital venceu por 4×3.
Mas, importante dizer que o título só não veio porque a equipe do CAT estava endiabrada e acabou terminando 8 pontos a frente do Volkswagen…
Chegamos em 1965 e mais um honroso 3º lugar em sua série regional…
O time de 1965:
No Campeonato de 1966, novamente o Lobo da Anchieta se classifica para a fase final.
A fase final foi bem esquisita, visto que duas equipes acabaram desistindo e mesmo assim, o time da Volkswagen só obteve uma vitória…
Em 1967, mais uma vez o Lobo da Anchieta sagra-se campeão do seu grupo!
A fase final é um quadrangular, onde o time do ABC conquista apenas uma vitória e após esta campanha bem interessante, abandona o futebol profissional para sempre…
Mas em 20 de agosto de 1968, no aniversário de São Bernardo, ao menos o seu estádi teve um momento de glória: foi palco do jogo entre o SC Corinthians Paulista 3×0 Seleção da cidade.
As arquibancadas se tornaram insuficientes e os torcedores ocuparam os morros ao redor do estádio.
Na década de 70, o Volkswagen Clube chega a ter 16 mil associados! E encontrei uma nota no Jornal Cidade de Santos, que cita uma derrota em amistoso para o Jabaquara em 1975:
Mas na década de 2000, começam a surgir problemas. A dívida com a prefeitura bate os 3 milhões de reais. e por meio do Decreto nº 15.170, a Prefeitura declara a propriedade de utilidade pública, a fim de ser desapropriada. E assim terminam as aventuras da Volkswagen nos esportes, da mesma maneira como suas cooperativas de consumo também somem de nossa regi˜ao…
Mas para chegar até lá, foi uma longa estrada, e para torná-la mais animada, entramos em Três Corações para conhecer a cidade onde nasceu o rei Pelé e que graças a isso, a cada dia tenta se aproximar mais do futebol.
Segundo o mapa de ocupação indígena “Native Land“, a região que viria se tornar Três Corações era ocupada por indígenas Puri que acabaram fugindo, expulsos ou mortos pelos europeus e bandeirantes que passaram a ver Minas Gerais como a possibilidade de fácil enriquecimento.
Em 1737, o ouvidor Cipriano José da Rocha informa que existem pontos de mineração na região do “Rio Verde”, levando pessoas, como o português Tomé Martins da Costa a buscar ouro ali. Em 1832 é instalada a freguesia dos Três Corações do Rio Verde, elevada à Vila em 1860. Em 1884, a Vila recebe a visita do Imperador D. Pedro II para a inauguração da polêmica estrada de ferro Minas & Rio, que ia até Cruzeiro-SP.
Três meses depois, em 23 de setembro de 1884, a Vila foi elevada à cidade, chamada apenas de “Três Corações” a partir de 7 de setembro de 1923. Em 23 de outubro de 1940 nasce aquele que seria o filho mais conhecido da cidade: Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé!
E nos anos seguintes, a cidade cresceu bastante e hoje vivem lá quase 80 mil pessoas.
O futebol na cidade também nasceu cedo: em 13 de setembro de 1913, era fundado o Atlético Clube Três Corações.
A cor vermelha e suas iniciais (na época “Atlético Futebol Clube“) eram uma homenagem ao América do Rio de Janeiro. Tempos depois, o nome do time passou a ser “Atlético Clube Três Corações“.
O time passa a jogar com adversários da região, como o da cidade vizinha de Varginha. A primeira partida, em 1914, foi marcada por muita confusão e pancadaria (o Atlético venceu por 2×0).
Em 1941, a Liga Esportiva Tricordiana (LET), conquista a Taça Guaraína, a mais importante competição do sul de Minas Gerais. Naquele time jogava Dondinho, pai do Pelé.
De 1941 até 1966, manteve-se no amadorismo, conquistando em 1960, o Torneio sul-mineiro.
Em 1966, inaugura a sua sede social e, no ano seguinte, em 1967 estreia no profissionalismo, ficando em 5º lugar em seu grupo, o da Zona Sul.
Em 1968, termina em 4º no seu grupo:
Assim como em 1969:
Em 1970, disputa o Campeonato Mineiro da Primeira Divisão e consegue manter-se aí por alguns anos.
Destaque para a campanha de 1972, quando termina na 4ª colocação!
Em 1974, o time vai mal e se licencia do profissionalismo até 1977 quando joga o Módulo II, terminando em 5º lugar. Em 1980, disputa a 1ª divisão (11º lugar entre 21 participantes). Sua próxima participação é em 1986, quando sagra-se Campeão Mineiro da Segunda Divisão,
O time virou até matéria na Revista Placar!
Em 1987, o time termina na penúltima colocação e volta à segunda divisão, onde fica até 1992 quando novamente é campeão desta divisão!
O time disputa mais duas edições da Primeira Divisão (1993 e 94). Em 95 disputa a segunda divisão e paralisa suas atividades até 1998, quando volta na Terceira Divisão. Mesmo indo mal, volta para a segunda divisão em 1999 onde fica até 2006, quando passa por uma fase tão ruim que decidem encerrar as atividades.
Mas, os diretores do time tiveram uma ideia: e se pudessem começar de novo? Sem dívidas nem problemas, nascia em 13 de agosto de 2007: o Clube Atlético Tricordiano, que seria a sequência do futebol na cidade!
Assim, o Clube Atlético Tricordiano herda as cores e a torcida do antigo Atlético e estreia no futebol profissional em outubro de 2008, na 2º Divisão, terminando a competição na 4ª colocação.
Em 2009, o CA Tricordiano conquista o acesso para o Módulo II do Campeonato Mineiro, ficando na 3º colocação, com a melhor média de público da competição, cerca de 1.800 torcedores por jogo sendo que na decisão mais de 6 mil pessoas foram ao Estádio Elias Arbex, na vitória por 2×0 contra a Unitri. Foto do incrível Jogos Perdidos:
Em 2010, o CA Tricordiano faz sua estreia no Módulo II, porém acabou punido com a perda de 4 pontos, terminando a competição na 5ª colocação (com os pontos perdidos, estaria em 2º).
Em 2011, o CA Tricordiano classificou-se para o quadrangular final, brigando pela vaga e perdendo o aceso à Primeira Divisão em casa contra o Ituiutaba. Em 2012, disputa o Módulo II e por pouco não vai parar na 2º divisão. Em 2013 tem um desempenho melhor, mas sem grande destaque. Em 2014 mais uma vez teve chances de subir para o modulo I, mas acabou batendo na trave.
Em 2016, estreia no Módulo I do Campeonato Mineiro, terminando em um honroso 7º lugar.
Infelizmente, em 2017, acabou rebaixado para o Módulo II do Campeonato Mineiro com uma campanha sem nenhuma vitória 🙁
Em 2018, uma campanha mediana no Módulo II e em 2019, uma série de problemas, entre eles a interdição do Estádio Elias Arbex, fizeram o time abandonar a disputa do Campeonato, e assim acabou rebaixado à Segunda Divisão, além de ser suspenso de competições oficiais por 2 anos. Assim termina a participação do Tricordiano no futebol mineiro, porém…
Os diretores novamente se perguntam… E se pudessem começar tudo de novo?
Assim, o Atlético Três Corações ressurge e volta a ocupar a posição de time da cidade, disputando a “Segunda Divisão” (nome dado ao terceiro nível do Campeonato), onde está até hoje.
E toda essa história teve como palco o Estádio Elias Arbex, que até pouco tempo atrás tinha essa cara:
A cara mudou pois, desde 2023, o Estádio homenageia em seu nome o rei Pelé:
Fomos até lá para registrar um pouco do Estádio, a começar pelo portão de entrada:
Fomos recebidos por dos responsáveis pelas categorias de base do Atlético.
E aí está a bilheteria do estádio:
Aqui, a lateral do Estádio:
Mas vamos dar uma olhada na parte interna para conhecer um pouco da realidade do futebol de Três Corações:
O Estádio é incrível! Tem uma linda estrutura. Olhando da arquibancada coberta, aqui pode se ver o meio campo:
O gol da esquerda:
E o gol da direita:
Olha a faixa da torcida:
Ah, outra alteração em homenagem ao rei Pelé foi a inserção das coroas nos corações de seu distintivo:
A arquibancada coberta é mesmo linda!
E lá vai o Atlético contar uma nova história na terra do rei…
No Estádio, encontrei essa linda homenagem feita em 1984:
Existe uma loja dentro do estádio, mas infelizmente estava fechada 🙁
Olha que charmoso é o estádio:
O gramado está muito bem cuidado e pelo que entendi, recebendo os jogos da base.
Enfim, mais uma história registrada e mais um estádio incrível visitado!
Que a torcida siga fazendo dele um dos espaços de convivência que misturam o povo da cidade, ricos ou pobres, pretos ou brancos….
Pra quem mora em Santo André, vale a pena esse curta baseado em um fato real, marcante pra história do futebol brasileiro: o jogo entre o Santos e o Corinthians de Santo André, o Galo Preto da Vila Alzira, quando o Pelé marcou o primeiro gol de sua carreira.