
A gente cresce sem questionar muito se as coisas que nos cercam vão estar ali pra sempre.
A rua, o bairro, as árvores da calçada, as casas e comércios que viram pontos de referência geográfica e também no nosso mapa sentimental.
De repente, você percebe: “Opa… Algo mudou”.
E sim, tudo muda, sem avisar, nem pedir licença.
Assim aconteceu com a “casa nº 729”.

Em 1984, nossa família se mudou para a casa ao lado, fazendo com que ela acompanhasse a infância de todos nós, meus irmãos e eu.
Mas naqueles primeiros anos ela não tinha nada de romântica para nós.
Pelo contrário.
Era um pequeno pesadelo infantil, um buraco negro onde desapareciam as nossas bolas.
Um chute mais forte, ou um rebote do goleiro e a bola ia vagarosamente ultrapassando o muro e sumindo rumo à casa vizinha.
Aí era aquela discussão pra saber quem iria pedir a bola de volta.
Antes, uma olhadela por cima do muro pra ver onde a bola estava, pra confirmar a regra: a bola sempre caía no meio da horta do quintal vizinho.
Campainha tocada, e lá vinha o filho da vizinha, já adulto, nos atender.
“O senhor pode por favor, pegar a bola que caiu lá na horta”.
Ele voltava pra dentro de casa e após alguns minutos a mesma resposta de sempre: “Não tem nenhuma bola lá”.
Não conseguíamos entender e passávamos o dia inventando teorias sobre o destino das bolas perdidas, sempre com mais drama do que razão.

O tempo, no entanto, tem sua maneira silenciosa de ajeitar as coisas.
Fomos aprendendo a jogar na outra metade do quintal, onde uma rede impedia a bola de cair no vizinho do outro lado.
Também vimos as broncas e as pequenas injustiças da infância se transformarem em coisas pequenas, quase engraçadas.
No fim, o que sobrou foi o vínculo.
O bairro amansou a gente.
Crescemos, conversamos mais, cruzamos histórias.
A senhora vizinha, uma romena de poucas palavras, foi ficando mais velhinha. Lembro dela andando com dificuldade indo até a padaria ou açougue que ficavam no nosso quarteirão.
Acho que foi numa dessas idas e vindas que alguém de casa comemorou um “Bom dia” trocado com ela.
Temos depois, acabaríamos conhecendo o Banitsa romeno!
E foi assim, aos poucos, que aquelas fronteiras invisíveis entre uma casa e outra foram se dissolvendo.
O que antes era o medo de perder a bola virou convivência.
Depois amizade.
Até se tornar uma nova realidade.
Mas, o tempo é implacável.
E tudo continuou mudando.
Depois de um tempo acamada, a vizinha romena se foi.
Sua filha também.
Ficou apenas o filho, que agora já frequentava nossa casa como amigo.
Ele se tornou o último guardião da casa número 729.
E assim novas experiências e vivências consolidaram mais uma realidade diferente a cada nascer do sol.

Chegamos, enfim, em 2025 e o tempo, como era pra termos aprendido, continuou a passar.
E com ele, mais transformações.
O guardião da 729 decidiu ir para Suzano.
Fez os planos, depois, as malas e num fim de semana, lá estava o caminhão levando tudo embora.

Não houve uma despedida porque até hoje, ele aparece pelo bairro pra nos visitar, mas a casa…
Essa sim se despediu.
Semanas depois da mudança, foi posta abaixo.
Ruiu rápido, como se estivesse esperando apenas um sinal.
Não houve tragédia, nem drama. Só um silêncio diferente.
Aquela demolição não derrubou só paredes: derrubou um pedaço da paisagem que moldou quem fomos um dia.
Vão construir uma loja em seu lugar.

O bairro virando um centro de lojas e as relações se tornando negócios.
Sem bolas na horta.
Assim como os clubes de futebol se transformam em empresas, o jogo e a vida vão sempre se reinventando, e cabe a nós manter viva a magia da vida.
O tempo vai passar e quando menos me der conta volto aqui pra fazer um acréscimo nesse texto e dizer “Puxa, já estamos em 2035, 10 anos sem aquela casa, olha como está o bairro hoje…” E sei que a vida vai seguir sendo legal.
Mas por hoje, permita-me um momento de tristeza e saudosismo ao olhar e ver que a casa nº 729 já não está mais lá.
O bairro também não é mais o mesmo.
Talvez nenhum de nós seja.















































































































Em 2019, mandou o clássico contra o São Caetano pela Copa Paulista em Suzano, no Estádio Municipal Francisco Marques Figueira, popularmente conhecido por Suzanão e aproveitei o rolê pra registrar mais uma vez o estádio!
Mais uma vez, porque já estivemos lá, há alguns anos
Suzano fica na Região Metropolitana de São Paulo, no “Alto Tietê”:
Sua história começou quando o padre jesuíta Francisco Baruel, no século XVII chegou à região para apaziguar as guerras entre os índios Pés Largos e os Guaianases (representados na gravura abaixo), por meio da catequização (!).
Logo se formou um povoado: Nossa Senhora da Piedade de Taiaçupeba.
Séculos depois chega a Estrada de Ferro e a estação local originalmente chamada de Guaió ajudou a aumentar o fluxo de pessoas pela região. (foto do
Na sequência do século XX, chegam à cidade os primeiros imigrantes japoneses e depois italianos. Com seu crescimento, em 8 de dezembro de 1948, Suzano atingiu a condição de município, emancipando-se de Mogi das Cruzes.
O futebol sempre foi importante na cidade, prova disso são os times que disputaram os campeonatos profissionais da Federação Paulista.
Começamos falando do Suzano FC, fundado em 1 de outubro de 1933.
O Suzano FC jogava nas terras de Carlos Rodrigues de Faria, Armênio Simões e Manoel Moreira de Azevedo, hoje a praça dos Expedicionários.
O time passou boa parte da vida nas disputas amadoras e rivalizando com times da região como o União Mogi e o Vila Santista, de Mogi das Cruzes, o Corinthians e o Poaense (o distintivo abaixo), de Poá, entre outros.
Com o tempo, o Suzano FC conseguiu um terreno, onde atualmente está o atual Ginásio Municipal de Esportes Paulo Portela, e lá construiu sua sede, tornando -se referência na cidade e na região fazendo Suzano ficar conhecida por conta do futebol.
Logo, o time passou a disputar o Campeonato de Futebol Amador do Estado, e mais uma vez fez historia ao ser por 3 vezes campeão da segunda fase, onde jogava com os times de outras regiões.
Em 1981, o Suzano FC tornou-se o primeiro de Suxzano a disputar uma competição profissional da Federação Paulista: a Terceira Divisão (equivalente à série A3) de 1981.
Logo em seu primeiro ano, conquistou o direito de disputar a série A2 de 1982, jogando o Grupo Preto.
Em 1983, mais uma vez disputou a segunda divisão (a série A2 da época) no Grupo Preto.
Aqui uma imagem do jogador Elias Dourado, no time, em 1983:
O Suzano FC voltou à série A3 de 1984 e 85.
Esse foi o time de 1984:
Outro time que faz história em Suzano foi o Clube Atlético Paulista, fundado no bairro das Palmeiras, em 25 de janeiro de 1969 por trabalhadores rurais.
Um empresário que tinha uma fábrica de nome “Paulista” decidiu dar um apoio, e ainda resolveuo nome do time, que passou a disputar a Liga Municipal de Futebol de Suzano, levando seu primeiro título em 1974.
O alvi verde de Suzano ainda ganharia respeito jogando contra grandes times do futebol amador dos anos 70 e 80, entre eles, ganhando o tradicional “Desafio ao Galo”.
Com tamanho sucesso, a diretoria decidiu profissionalizar o CA Paulista em 1982, e pra isso construiu seu próprio estádio em uma área cedida pela prefeitura.
Ali, enfrentou times importantes do futebol paulista, chegando a fase final da Terceira de 82, em sua primeira participação, onde ficou até 1987.
Aqui, seus resultados na primeira fase da Terceira Divisão de 1985:
A segunda fase, embora apresentasse os melhores colocados da primeira fase, tirou o CA PAulista da sequência do campeonato.
Em 1988, o Suzano FC disputou a, então chamada Terceira Divisão (que na verdade equivalia ao quarto nível do futebol paulista).
No ano seguinte, a prefeitura decidiu oficializar o apoio ao time e em 1989, o time se funde ao Suzano FC e muda de nome para União Suzano Atlético Clube, já disputando com esse nome a terceira divisão daquele ano.
O União Suzano Atlético Clube se transforma num verdadeiro centro de esportes municipal atuando no vôlei e no basquete, além do futebol.
O time adotou como mascote o
Em 1992 conquistou a taça dos invictos pela terceira divisão (a Série A3 da época). Olha, que linda essa camisa que está na Fanpage do time:
O namoro com a prefeitura durou apenas até meados dos anos 90, e a separação levou o time, em 1996 para a sexta divisão de profissionais (a série B2).
No ano 2000, o mundo não acabou, mas foi quase, uma péssima campanha levou o USAC para a série B3, sendo rebaixado no grupo B do Campeonato Paulista de Futebol de 2000 – Série B2.
O USAC joga a série B3 de 2001, mas se licencia da Federação Paulista no ano seguinte ficando de fora das competições até 2006, quando regressa à Segunda Divisão (a série B do Campeonato Paulista, que equivale ao quarto nível estadual), até uma nova parada em 2016, quando licenciado da Federação Paulista, participou da 1ª Taça Paulista, organizada pela Liga de Futebol Paulista.
Em 2019, a equipe retornou à Segunda Divisão (Série B do Campeonato Paulista), onde se encontra até hoje (2021), sendo que em 2020, obteve a maior goleada da sua história (9×0 contra o Atlético Mogi).
Em paralelo à parte dessa história, precisamos falar do
O time foi fundado em 25 de outubro de 1993, na época em que as relações da prefeitura não iam bem com o USAC (curioso que os fundadores dos dois times foram os mesmos).
Logo o ECUS estava disputando competições de futebol e também vôlei, basquete, atletismo entre outros, adotando o leão como mascote, e como são do
Após 5 anos nas disputas amadoras, em 1998 o time profissionbaliza-se e disputa o Campeonato Paulista da Série B1B (quinto nível do futebol paulista daquele ano), fazendo um bom campeonato no seu primeiro ano, como mostram os números do
O ECUS terminaria em sétimo lugar do grupo B:
Com dois clubes da cidade no mesmo grupo, surge pela primeira vez o derbi, denominado de clássico dos gêmeos”.
Em 1999, melhora sua colocação, terminando em sexto, mas não se classificando para as etapas finais.
A partir do ano 2000 a divisão passa a se chamar “Série B2”, mas o ECUS não conseguiu melhorar seus resultados, terminando em décimo-primeiro lugar.
Em 2001, mesma colocação:
Finalmente, em 2002, uma campanha digna de respeito: o título de campeão da Série B2, com a campanha abaixo (
No mata mata, o time foi guerreiro e soube ultrapassar todos os adversários para sagrar-se campeão!
Assim, o ECUS passa a disputar a Série B1 do Campeonato Paulista, em 2003, onde logo em seu primeiro ano, quase conquista seu segundo acesso consecutivo!
Na segunda fase, o Grêmio Mauaense sobressaiu, mas o ECUS não fez feio, terminando na 4a colocação. Infelizmente, somente os dois primeiros subiram para a A3.
Em 2004, finalmente chega o acesso à série A3 (o terceiro nível do Campeonato Paulista), com uma bela campanha!
Na fase final, a campanha não levou o título, mas pelo menos garantiu o acesso à série A3 de 2005 junto do Monte Azul (que foi o campeão, a Frroviária e o Grêmio Barueri).
Infelizmente, fez péssima campanha na Série A3, sendo rebaixado de volta ao quarto (e agora último) nível do Campeonato Paulista: a Série B, onde permaneceu com campanhas medianas e fracas até 2015, quando se licenciou do profissionalismo e ficou até os dias atuais (2021) fora do profissionalismo.
Em 2017, com os dois times licenciados, um
Como disse, estáamos ali para ver um jogo do EC Santo André e por isso, tive por companhia, meus amigos de sempre de arquibancada!
Popularmente conhecido como Suzanão,o estádio pertence à prefeitura e tem capacidade para quase 5 mil torcedores, com arquibancadas nas duas laterais do campo.
Aqui, uma olhada no gol da direita:
Aqui, o gol da esquerda:
O estádio foi inaugurado em 2 de abril de 1982, numa partida entre o Suzano FC e a Portuguesa de Desportos, e os visitantes ganharam por 5×1, e agora, lá estávamos nós, quase 40 anos depois pra curtir o estádio local!
Nesse dia, rolou um minuto de silêncio em homenagem ao atleta Agenor, que havia falecido naquela semana.
Aqui um vídeo que mostra mais do estádio:
As arquibancadas estavam bem vazias porque era um jogo no meio da tarde em plena quarta feira…
Ali ao fundo, o tradicional placar manual!
E é assim, entre amigos, e em meio a Copa Paulista, que vivenciamos um pouco desse lugar histórico para o futebol. Na esperança de que logo suas arquibancadas estejam cheias para a festa do povo de Suzano!





























