Santo André, que teve um sabor especial porque aconteceu em uma cidade que fica há mais de 400 km de distância e que também é apaixonada por futebol: Barretos! Pra chegar lá e poder curtir um pouco da cidade, saímos bem cedo, tanto que pegamos até neblina no caminho. Mas chegamos com um tempo agradável, que nos permitiu passear um pouco pela cidade, já que o jogo seria a noite. A primeira coisa a aprender foi que as avenidas são identificadas por números ímpares e as ruas por números pares. Barretos é conhecida por sua ligação com o gado, e pelos rodeios, mas como não concordamos com esse tipo de cultura, que envolve sofrimento e morte animal, olhamos a cidade por um outro ângulo, rendendo-nos à natureza, e à história local, como por exemplo a Estação Ferroviária, que foi importantíssima para a cidade e a região. Pelo que pudemos conversar com alguns torcedores locais, a cidade tem perdido um pouco do charme, com algumas ações de modernização, como a mudança de alguns equipamentos municipais, a demolição de antigos casarões dando lugar a prédios, verticalizando a cidade a cada dia. Quem luta para sobreviver em meio a esse caos moderno é o Cine Barretos. Mas, as placa nos lembrava que o que nos levou até a cidade foi mesmo o futebol! Pra escrever sobre a história do futebol profissional em Barretos, contei com a ajuda do site www.futebolbarretos.com.br, do blog Zé Duarte Futebol Antigo e do amigo Manolinho Gonçalves. O primeiro time profissional a se criar em Barretos foi o Fortaleza Esporte Clube, fundado em 15 de novembro de 1936. O time alvi-verde, também conhecido como o “Periquito da rua 20” passou vários anos no amador, só estreiando na Série A2 em 1955, no Setor Azul, terminando na última colocação. Esse foi o time do Fortaleza que jogou a A2 de 1955: Em 1956, terminaria em último lugar desta vez, na Série Cafeeira. Em 1957, também não conseguiu uma boa campanha… Em 1958, subiu mais algumas posições, mas ainda terminando em uma posição na parte de baixo da tabela… Em 1959, termina a Série Geraldo Starling Soares na 6a colocação. Jogaria ainda a série A3 em 60. Aqui algumas imagens antigas do time que o pessoal do Blog História do futebol encontrou na Revista Sport Ilustrado. O Fortaleza EC mandou seus jogos no Estádio Fortaleza, que foi municipalizado em 1977, e em 1994 passou a ser chamado de “Antônio Gomes Martins – Tio Cabeça“, em homenagem ao ex-massagista de Barretos. É lá que o Barretos EC manda seus jogos, atualmente. Esse é o tio Cabeça: Peguei essa foto da entrada do Estádio no Google Maps! E essa a gente fez durante uma visita ao estádio antes do jogo de 2016. Mas se o Fortaleza EC foi o time mais antigo da cidade a disputar o profissionalismo, é hora de falarmos do Barretos FC, que embora fundado 2 anos depois, disputou os campeonatos da Federação Paulista antes! O Barretos Futebol Clube foi fundado em 7 de julho de 1938 e jogou o amador por 9 anos. Aqui, um amistoso contra o Uberaba SC, em 1945: O Barretos FC só estreiou na série A2 em 1947, fazendo uma campanha bem irregular, assim como seria em 1948 também: Em 1949, o time se licenciou, voltando a partir de 1950, ainda com campanhas bastante irregulares, mas ainda assim se transformando na alegria do futebol local! Com esse início complicado, 0 time acabou se licenciando do profissionalismo em 1953 e só voltando à A2, em 1955. Em 1955, houve a estreia do Dérbi de Barretos (6/11 – Fortaleza 1×1 Barretos e em 11/12 – Barretos 3×2 Fortaleza), no profissionalismo aqui, fotos do segundo jogo: Vale lembrar que em 1944, já houvera o dérbi, mas pelo Campeonato do Interior de 1944, no qual o Barretos FC chegou até a semifinal, contra o Guarani que seria campeão. Em 1947, o Barretos voltou a disputou o Campeonato Profissional do Interior terminando em décimo e jogou também o amador. Em 1956, mais uma campanha mediana na “Série Pecuária“, mas em 1957, além de mais 2 dérbis (28/4 – Barretos 3×1 Fortaleza e 28/7 – Fortaleza 2×3 Barretos), o time terminou na terceira colocação da Série C. Em 1958, parecia chegar a hora… O Barretos FC sagrou-se campeão do seu grupo, o Amarelo. Além disso, mais dois dérbis: 8/6 – Barretos FC 4×0 Fortaleza e 19/10 – Fortaleza 0x3 Barretos FC). Na segunda fase, o Barretos FC caiu no Grupo João Havelange, onde terminou na quarta colocação. O Corinthians de Presidente Prudente além de líder do grupo, seria campeão da A2 de 1958. Em 1959, uma tragédia para a cidade, mesmo sem terminar na parte debaixo da tabela, no Grupo Geraldo Starling Soares, tanto Barretos FC quanto Fortaleza FC acabaram rebaixados para a Série A3. E 1959 acabou marcado como o ano dos últimos dérbis: 31/5 – Barretos 3×1 Fortaleza e 23/8 – Fortaleza 0x3 Barretos. O Barretos FC ainda chegou a disputar a A3 em 1960, mas o Fortaleza FC abandonaria as competições profissionais da Federação Paulista. Nessas competições, mandaram seus jogos no Estádio da Rua 32, em frente ao Recinto Paulo de Lima Correia, onde hoje é a Praça 9 de Julho e o Terminal Municipal de Ônibus Urbanos. Segundo o amigo Manolinho, a Arquibancada Central era de madeira e identica a do Parque São Jorge. E a cidade ainda teria um terceiro time: o Motoristas Futebol Clube, fundado em 6 de março de 1944. Olha que bela flâmula do time: O Motoristas FC disputou a série A2 em 1950, terminando na 10a colocação. Assim, a cidade ganhou 2 dérbis em 1950: 30/7 – Barretos 1×0 Motoristas e 22/10 – Motoristas 3×0. Aqui algumas imagens do time já na época da volta ao amadorismo: O Motoristas FC mandava seus jogos no Estádio Dr Adhemar de Barros Filho, ou o “Campo dos Motoristas da Avenida 21“. Mas, infelizmente estes 3 times pertencem ao passado. O presente do futebol profissional da cidade de Barretos começou a ser escrito em outubro de 1960, quando o Barretos FC e o Fortaleza FC se uniram para formar o Barretos Esporte Clube. Assim, em 1961, a cidade voltou a ter um time na Série A2 da época e na sua “estréia”, até que o Barretos EC foi bem. (tabela abaixo da Wikipedia): Já em 62, o time foi mal e só escapou do rebaixamento num incrível mata-mata, contra o Elvira (de Jacareí), último colocado da Série “José Ermírio de Moraes Filho”, e pra isso foram necessários 4 partidas: Barretos 7 x 1 Elvira (10/2/63), Elvira 2 x 1 Barretos (17/2/63), Barretos 1 x 1 Elvira (23/2/63, em Campinas) e Barretos 1 x 0 Elvira (2/3/63, em Campinas). Em 63 e 64, sequer se classificou no seu grupo. Esse é o time de 63 (fonte: Zé Duarte Futebol Antigo): Em 1965 foi campeão da Série Carlos Joel Neli e fez a final contra o Bragantino, perdendo as duas partidas (jogadas no Pacaembú), o título e o acesso… Em 1966, nova campanha de destaque! O Barretos FC ficou em 2º da Série João Mendonça Falcão, classificando-se para o quadrangular semifinal, terminando em 3º no grupo. Em 1967, após liderar o seu grupo foi eliminado no mata mata pelo Paulista de Jundiaí. Já em 1968, liderou seu grupo e classificou-se para a segunda fase (um outro grupo dessa vez com 8 times), terminando em quarto lugar e sendo desclassificado. Em 1969, 70, 73 e 75 não passou da fase de grupos. Em 71, 72 e 74 foi desclassificado na segunda fase. Em 76, mais uma vez liderou seu grupo nos dois turnos da primeira fase, mas acabou em último lugar no quadrangular final (XV de Jaú sagrou-se campeão, Aliança, vice e o Santo André em terceiro). Esse era o time daquele ano, e veja que linda a torcida ao fundo: Em 77, mais uma vez liderou o gurpo da primeira fase e na fase final acabou na quarta colocação. Em 78, num regulamento bem esquisito, o Barretos liderou o Grupo A, depois foi mal na 2a e 3a fase e acabou mais um ano na A2. Em 79 e 80 o time não foi bem, parando na fase inicial, em 81 liderou a Série Amarela, mas ocupou a penúltima posição no grupo final, com o time: Em 82, 83, 84, 85, 86 e 87, regulamentos ainda mais confusos acabaram fazendo com que o Barretos se limitasse à campanhas medianas e pra piorar, o time passou a jogar a série A3 a partir de 1988, onde ficou até 1990, quando voltou à A2, esse era o time daquele ano: Permaneceu na A2 até 1993, quando caiu novamente para a A3. Em 1995, o pior momento: o time caiu para a Série B1A (o quarto nível do futebol da época). Em 1998 chegou perto de voltar, ao ser vice campeão do grupo inicial e vice do quadrangular final, mas apenas o Oeste consegiu o acesso. Só em 2001, voltou à A3. Inicialmente só subiriam dois times, mas graças às mudanças do calendário, o acesso foi ampliado. Sua volta à A3, em 2002, foi marcada com uma boa campanha, ficando de fora das finais por muito pouco! Permaneceu na A3 até 2006, quando uma campanha bem ruim levou mais uma vez para o quarto nível do futebol paulista (agora a Segunda Divisão, ou série B). De volta à segunda divisão, apenas em 2011 o time conseguiu o acesso (já nessa fase das 4 fases em grupos) à A3, mas foram apenas 2 anos e nova queda à série B, pra uma única disputa em 2014 e novo acesso à A3. Em 2015, logo de cara, uma surpresa… Um acesso conquistado à série A2 (graças ao problema do Atibaia). Permaneceu na A2 em 2016 e 2017, quando voltou pra A3, onde permaneceu até esse momento (em 2020, ainda sob risco de rebaixamento à A3). E foi em 2016, que tivemos a oportunidade de conhecer o Estádio Municipal Antônio Gomes Martins, também conhecido como “Fortaleza” em homenagem ao time da cidade. Confesso que deu um pouco de aperto no coração, imaginar que estávamos ali pra impedir o inédito acesso do Barretos à série A1… Aproveitei pra pegar um jornal local e ver se a torcida do Barretos estava esperançosa quanto à virada (o placar em Santo André foi 2×0 pro Ramalhão). E até pra dar sorte pro Ramalhão, fiz questão de estar dentro de campo, antes do jogo! Aproveitei pra pegar meu ingresso e não correr nenhum risco. Fui conhecer também ocharmoso portão dos fundos por onde andaríamos. E olha aí o portão olhando de dentro pra fora já na hora do jogo…. A noite estava muito bonita. A torcida local compareceu, pintando de verde, vermelho e amarelo as bancadas do Estádio Municipal Antônio Gomes Martins. Oficialmente, o Estádio tem capacidade para 13 mil torcedores, mas pelo borderô oficial apenas 5 mil torcedores compareceram. Quem foi, fez festa! Mas engana-se quem pensa que o lado azul não compareceu… Era um jogo decisivo, lá estava a Fúria Andreense! E a Esquadrão Andreense: Foi um jogo super truncado com várias defesas milagrosas do nosso goleiro “Zé Carlos”, para o desespero da torcida local. Foram 90 minutos de pressão do Barretos e o Santo André se segurando lá atrás… E a gente desesperado na arqubancada visitante. Mas o Ramalhão também levou perigo em alguns lances. E o Branquinho no escanteio… O primeiro tempo terminou e a alegria parecia começar a se multiplicar nas arquibancadas visitantes. Muitas bandeiras do Santo André decoraram a parte do estádio dedicado à nossa torcida. Até um “mini bandeirão” apareceu… Uma pena que a câmera não pode captar melhor o estádio, já que estava de noite, mas pelo menos ficou um registro de mais esse lugar histórico! Ao final do jogo, festa entre torcida e o time que jogaram juntos todo o campeonato! Zé Carlos até deu as luvas de presente a um torcedor (que mais tarde precisou devolvê-las para que o goleiro as usasse na final contra o Mirasssol). A torcida local soube respeita a conquista do Santo André e ficou até o fim do jogo. Um sentimento único! Conhecer um estádio lindo e cheio de histórias e ao mesmo tempo voltar à primeira divisão! Só tenho a agradecer a todos!