Quarta Feira, 7 de junho de 2023. A série D do Campeonato Brasileiro tem um jogão nessa rodada: Athletic Club x EC Santo André. Sendo véspera de feriado pudemos viajar até São João del Rei para conhecer novos estádios, em especial o Estádio Joaquim Portugal, a casa do Athletic Club.
Mas antes de falarmos sobre o riquíssimo futebol de São João del Rei, vamos relembrar um pouco da história da cidade.
Muito antes da presença europeia, a região era ocupada pelos incríveis Puris, indígenas do tronco linguístico macro-jê, registrados no século XIX pelo alemão Johann Moritz Rugendas:
Aqui, outro quadro histórico (“Dança dos puris” de Johann Baptist von Spix) que retrata os puris, já com a presença de forasteiros europeus:
A chegada dos portugueses e bandeirantes à região se deu no início do século XVIII, como consequência do ouro descoberto na região na serra do lenheiro. O povoado começa a se formar em torno da Capela de Nossa Senhora do Pilar, incendiada em 1709 durante a Guerra dos Emboabas. Como você não lembra deste tema, o Eduardo Bueno te lembra:
A Capela incendiada deu lugar à Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar concluída em 1750:
Aliás, São João del Rei é uma das cidades históricas da Estrada Real, o que significa a possibilidade de visitar várias igrejas e casarões dessa época.
A região também mantém boas lembranças da ferrovia, incluindo um museu!
Vale uma passada pelo mercado municipal também, afinal, quem não gosta de queijo, bom sujeito não é!
Enfim, lindos visuais históricos é o que não faltam nesta linda cidade!
Espero que você tenha a possibilidade de visitar a cidade um dia, porque além de tudo isso, São João del Rei conta ainda com vários times que fizeram história no futebol local, dos quais escolhemos 5 para conhecer mais.
Comecemos com o mais antigo deles, fundado em 27 de junho de 1909 com o nome de o Atlético Futebol Clube.
O nome atual, Athletic Club, só foi adotado a partir de 10 de agosto de 1913. Aqui, foto do incrível site História do Futebol:
Esse é o time de 1969:
E esse, o de 1970:
O Athletic Club é o terceiro time da sua região com mais participações na primeira divisão do Campeonato Mineiro, atrás do Olympic Club e do Villa do Carmo, ambos de Barbacena.
Em junho de 2009, o clube comemorou seu centenário, mas apenas em 2018, após 48 temporadas, retornou ao profissionalismo disputando o terceiro nível do Campeonato Mineiro, conquistando o acesso ao Campeonato Mineiro Módulo II de 2019.
Em 2020, o Athletic conquistou o vice-campeonato do Módulo II e o acesso ao Módulo I de 2021.
Assim, em 2021, o Athletic disputou o principal nível do estadual, o “Campeonato Mineiro Módulo I”, pela segunda vez em sua história, terminando em 8º lugar. Em 2022, foi eliminado pelo Cruzeiro, na semi final, mas sagrou-se Campeão do Interior e da Recopa.
Em 2023, mais uma vez chegou às semi finais, perdendo para o Atlético em um jogo bastante polêmico. Acabou mais uma vez Campeão do Interior. E ainda este ano está disputando a série D do Campeonato Brasileiro, e foi para um destes jogos que comparecemos a Estádio Joaquim Portugal.
Para registrar melhor o Estádio Joaquim Portugal fui até lá um pouco antes do jogo para aproveitar a luz do sol!
E consegui até chegar ao campo!
E à nossa bancada!
Dá uma olhada como é a vista:
Após um role pela cidade, era hora de voltar pro jogo, vamos lá!
Lá vem os times e a pirotecnia rola solta!
O Estádio é também chamado de Arena Unimed e fica no bairro de Matosinhos. Olha que bacana o placar eletrônico:
A nossa torcida se fez presente!
A capacidade do Estádio Joaquim Portugal é de 3.500 torcedores. E a torcida local fez uma verdadeira festa!
Durante o jogo eu parei pra pensar no que significa para a população local que ficou décadas sem ver o time em campo, vivenciar uma fase como a atual do Athletic…
Espero que os investimentos que foram feitos para este retorno sejam sustentáveis a longo prazo e que São João del Rei possa vivenciar outras noites como esta!
Os bancos de reserva ficam bem abaixo do espaço da torcida visitante.
Deu pra acompanhar o treinador do Santo André trabalhar desde o princípio.
O EC Santo André começou jogando bem, marcando alto e abriu o placar com um gol de penalty, mas após o gol, o time mudou a postura e se limitou a ficar na defesa.
E antes do final do primeiro tempo, o Athletic empatou!
Festa nas bancadas locais!
No intervalo é hora de conhecer e registrar detalhes do estádio.
Olha que bacana a cabine da imprensa:
Vem o segundo tempo e o time local aumenta a pressão…
E um penalty para o time local, traz a virada!
O Estádio vira um caldeirão, e dá pra sentir o quanto a cidade está abraçando a ideia de ter um time pra chamar de seu!
Pra nós… Resta acompanhar o término da partida e respeitar a vitória do adversário…
Nem o Ovídio no VAR pode evitar a derrota… A partida terminou 4×2 para os locais.
Embora o resultado tenha me deixado chateado, a oportunidade de registrar o Estádio Joaquim Portugal ajudou a minimizar a tristeza.
Santo André e está com saudades do Estádio Bruno José Daniel, a banda Visitantes, lança um clip em homenagem ao dia-a-dia do torcedor, com a música “Mais um jogo no Brunão“.
Segue:
Lá se vão 16 anos daquele 30 de junho de 2004… Um dia pra ser guardado eternamente nos corações e mentes de todos os torcedores do Ramalhão.
Preparamos dois presentes para essa data: um é este post, o outro é o clipe do Visitantes, que você vê em primeira mão:
Não sei quando foi que me dei conta de que o Santo André realmente estava na final da Copa do Brasil em 2004. Tantos desafios foram vencidos até ali, que eu já não sabia se aquilo tudo era apenas fruto da minha imaginação.
Pra me deixar ainda mais confuso, acordei numa quarta feira, onde normalmente trabalho, e, pasmem, estava prestes a ir ao Estádio Mário Filho, o “Maracanã” acompanhar a final in loco, eu que nunca havia assistido a um jogo sequer ali…
Como não conseguimos ir com a torcida, numa última tentativa, ligamos no clube e conseguimos vagas no ônibus que estava fretado pela diretoria do Santo André.
Ainda duvidando da realidade, era por volta das 10 horas quando o amigo Márcio (esse que a gente homenageia no clip do Visitantes), junto do seu irmão Matheus e de Anderson, o “Gigante” começou a buzinar em frente de casa.
Fomos em carreata fazendo um auê até o Jaçatuba, de onde sairia nosso ônibus.
Após uma espera angustiante, a viagem enfim começou, e com ela, os causos contados pelos companheiros de viagem, sendo que alguns eram diretores do clube e se divertiam revelando fatos dos bastidores, enquanto tocava o hino do Santo André.
Além do nosso veículo, ainda tinha um micro ônibus nos acompanhando levando outros amigos como o Luiz Henrique da Ramalhonautas (primeira torcida virtual do Ramalhão).
Por volta das 15:00hs, paramos num posto meia boca e fizemos uma boquinha.
O ônibus volta ao seu percurso, sentado atrás da gente estava um diretor financeiro do Santo André e pouco mais à frente o Wigand, antigo presidente do clube, uma verdadeira lenda!
Logo que chegamos ao estado do RJ, uma ótima notícia, nos encontraríamos com o time no hotel, e dali sairíamos juntos.
Adentramos na Serra das Araras e vejo o primeiro carro com bandeira do Flamengo. Começo a pensar que este será o jogo onde verei o maior número de torcedores rivais na minha vida… Não me abalo, estou confiante, e no fundo o placar em si, já nem me importa mais, quero só mostrar meu orgulho deste time, que acompanhamos há tanto tempo.
Estamos quase chegando na cidade do Rio de Janeiro. São 6 da tarde e percebo que pegaremos o horário do rush na Av. Brasil, o que nos atrasaria bastante.
Um dos organizadores nos informa que não iremos mais pro hotel, e sim direto pro estádio, mas que teríamos escolta da polícia assim que chegássemos na cidade.
O motorista parece meio doido, corta boa parte do transito, faz um caminho louco, entra e sai de quebrada. O rádio informa que o movimento já é grande ao redor do Maracanã, também, pudera, já era 19:25hs.
Após muitas voltas, caímos em uma grande avenida, já abarrotada de flamenguistas, onde podemos visualizar o Maracanã ao horizonte.
Devemos estar uns 4 km longe, e a nossa frente… aquele trânsito…. Tinha muita gente indo pro jogo, muita mesmo.
De repente, o micro ônibus que estava com a gente parou e começou a sair uma nuvem de fumaça enorme… Alguém gritou: “Pára motorista!! O ônibus deles ta pegando fogo!!!!!!”.
Só depois percebemos que, na verdade, o pneu dele havia caído dentro de um bueiro, e acabou socorrido pelos torcedores ramalhinos com a ajuda de alguns flamenguistas…
A situação estava um caos, o ônibus não havia andado 500 metros nos últimos 20 minutos, mas de repente, como uma miragem no deserto, aparece o ônibus da delegação, com a escolta!
Mas… Nosso motorista vacilou e perdeu a chance de chegarmos mais rápido.
Agora somos nós contra 70 mil rubro-negros espalhados pelas ruas do bairro, e dá lhe arrastões, bondes, provocações com a gente, e muito vermelho e preto….
Justiça seja feita, em momento algum nos colocaram em situação de risco real.
Era muita gente, e parecia que ninguém se movia, parecia um formigueiro humano…
Essa foto é incrível, veja a galera já reconhecendo a gente como torcida do Santo André: uns dão joia, outro arremessou um pedaço de gelo, e outros dois com as mãos à cabeça parecem se perguntar “O que esses loucos vieram fazer aqui???”:
Após mais de uma hora nesse inferno, chegamos em frente ao Maracanã, o massagista do time, que estava no nosso ônibus decidiu descer em meio à torcida deles pra não perder o jogo. Já era 20:40hs!
A foto não saiu “legível”, mas fiquei emocionado ao ver uma faixa que dizia algo como “A Torcida Banguense deseja sorte ao Santo André”.
Quando tudo parecia se acertar, o motorista fez merda de novo e perdemos o portão 13 que iria nos dar acesso aos nossos lugares…
A decisão mais acertada parece ser descer ali mesmo, em meio ao mar rubro negro. A galera começa a ficar nervosa… Alguns acham arriscado, mas o motorista se recuperou dos erros e dando uma ré no meio daquela loucura, o ônibus conseguiu entrar no estacionamento.
Descemos e a polícia chegou. Embora parecessem mais guardadores de carro do que policiais, e tivessem no máximo 20 anos, toparam nos guiar até as catracas passando pelo meio da torcida local.
Assim que retirei meu ingresso da catraca, já não havia mais nenhum policial conosco. A partir dali, era por nossa conta.
Subimos as escadarias do Maracanã com a galera cantando “Meeeengoooooooooo”… Era uma festa tão contagiante que até a gente tava cantando….
No momento em que chegamos no fim das escadarias, não acreditei no que via…
Pra quem gosta de futebol, não importa o time, aquela é uma visão maravilhosa: o Maracanã lotado, com muitas bandeiras, faixas, confetes, e tudo mais, além da vibração da galera…
Não haveriam lugares separados para os torcedores paulistas, e nos pusemos a contornar o anel da arquibancada, buscando algum lugar ao menos pra sentar (tava muito lotado… aquele empurra empurra, gente indo, vindo…).
Enquanto procurávamos um lugar falei pro meu pai “Hoje é histórico pra nós, mas é pra eles também…”.
Na mesma hora, o cara do meu lado virou pra mim e falou “Oh, tu é paulixxxta! Tu veio até aqui torcer pro Sant’André? Não vai querer gritar aqui hein…”.
Voltei à realidade… Estava em outro estado, no meio da maior torcida do país, indo torcer pro time contrário, e não podia sequer abrir a boca, que já me identificariam…
Encontramos uma seqüência de cadeiras vazias e sentamos. O pessoal do ônibus se separou e sentou por ali.
E não é que em meio aquela bagunça toda, alguns dos nossos torcedores começaram a gritar “É Santo André!!”… Virei pra conferir e estavam com as camisas do ramalhão, como se estivessem no Brunão, gritando. A torcida local começou a chiar, mas foi a loucura mesmo quando eles abriram uma faixa com uma mensagem pro Galvão. Voaram latas, sanduíches, chinelos e etc…
Quando o pior tava pra acontecer apareceu a polícia para tira-los de lá.
O policial os convenceu a irem pras arquibancadas junto da TUDA e da Fúria (que estavam no anel inferior, atrás do gol).
Assim que eles sairam um flamenguitsa veio e gritou: “Aê, aê, é tudo paulixxxta aqui ó, é tudo paulixxxta” e nos apontou…
Assim que sentamos os jogadores já saíram da pose da tradicional foto do campeão e foram para o campo, pro jogo começar.
O jogo rolava, e eu nem acompanhava direito de tantas coisas que tinham para ser obseravdas. Além disso, estava um jogo feio, truncado e quando eu comecei a querer assistir, alguém cutucou minhas costas, como que me chamando.
A princípio achei que fossem torcedores nossos, mas de repente ouvi a mesma pessoa me perguntar “Olha só, o Filipe é qual número?” Xi… fudeu… E era pra mim… Eu só tive tempo de responder num carioquês embrulhado “Ele é o déixxxx, mas jogava com a seixxxx”. Não deu certo… Ficaram me enchendo o saco dizendo pra não torcer ou eu teria que sair dali …
Lá embaixo a nossa galera se fazendo ouvir de tempos em tempos, mesmo com quase 80 mil torcedores gritando contra. A Fúria Andreense e a TUDA fizeram bonito aquela noite!
Assim que acabou o primeiro tempo, veio o meu inferno.
O local onde estávamos era tipo “cadeiras cobertas” e o que separa este setor dos outros é uma placa de um tipo de acrílico com quase 2 metros de altura. E os caras começaram a bater naquela placa e fazer um puta barulho, e gritar “Olha aqui tem paulixxxta”…
Meu pai tranquilizava dizendo “Calma, que o jogo vai recomeçar e eles te esquecem”.
Mas o 2o tempo começou e os caras não parar. Pra tentar me livrar disso, pensei em sentar junto com o Márcio, o Matheus e o Anderson… Pô, os caras são grandes, duvido que alguém vai vir nos encher o saco!
Comecei a subir e pude ver que a situação não estava boa pra nenhum andreense… Tinha cara abraçado à bandeira do flamengo tentando se disfarçar, outros, nem bem me viam e diziam baixinho, “Sai fora, que aqui eles já tão desconfiados”.
Quando cheguei no Márcio, vi que nem lugar pra sentar tinha… Eu me sentia uma batata quente, que ninguém queria segurar. Era melhor voltar ao meu lugar.
Voltei e pensei num plano “B”: sentar sozinho no meio da torcida deles pra me misturar. E foi o que eu fiz, assim que o Flamengo teve um lance de ataque, desci uns 10 degraus e sentei na única cadeira livre (claro, assim que sentei percebi porque estava disponível… a cadeira estava molhada…).
Estava em meio a uma criança e um homem de uns 40 anos. Pensei: “aqui eu to tranqüilo”. Meti minha toca (num calor de uns 35 graus), abaixei a cabeça e fiquei o mais encolhido possível.
Foi assim, e desse lugar que vi o sonho se concretizar. O Santo André fez 1×0.
O gol foi um soco no estômago na torcida rubro negra… Como não podia gritar pra comemorar, Márcio fez a primeira “selfie” dos anos 2000 pra registrar a alegria!
O tempo não passava direito, as coisas estavam cada vez mais tensas, e de repente… 2×0.
Pensei… “SOMOS CAMPEÕES!!!!!”, mas tudo o que pude dizer ao cara da cadeira ao lado foi “Que merrrrrda, hein merrrrmão”…
Só fui ter consciência do que acontecia após uma cobrança de falta do Flamengo que foi uns 3 metros acima da trave. Levantei a cabeça e vi que muita gente tinha gente indo embora.
Priiiiiiiiiiiiiiii!!! Ouvi o apito final do juiz. Já dava pra desabafar e chorar um pouco…
Reunimos boa parte do pessoal que veio conosco e gritamos “É Campeão” sendo aplaudidos por alguns torcedores do Flamengo.
Lá embaixo nossa torcida ia ao delírio!
O time passou a fazer a festa em campo!
Os diretores começaram a pular para as cadeiras da imprensa, e nós fomos atrás, até chegarmos em um túnel que levava à porta de acesso aos vestiários. Um a um, os diretores foram entrando até que na nossa hora, o segurança pediu nossas identificações e … Fomos barrados…
Tentei me lamentar com outro segurança que me deu a dica: “Entra naquela segunda porta, que você sai no campo”.
Tinha certeza que era alguma armadilha, afinal de onde estávamos víamos muitos torcedores do Flamengo deixando o estádio, sem nenhuma proteção entre eles e a gente. Mas, como era a única coisa a se fazer naquele momento, decidimos arriscar… Andamos um pouco e de repente, para nosso espanto…
Estávamos dentro do campo!!! Não consegui acreditar que entrávamos, sem qualquer impedimento no mais sagrado templo do futebol brasileiro.
Assim que entramos, os jogadores estavam rezando. Eu nem acreditava, e corri pra galera, pra tentar encontrar algum conhecido. Não conseguia enxergar direito e quase caí no fosso que separa a torcida do campo. Pude ver o Ovídio, o pessoal da Fúria, entre outros.
Quando voltei minhas atenções pro campo, vi o Márcio caído no gramado deitado e sorrindo.
Aproveitamos pra pegar no pé de vários jornalistas que nunca acreditaram em nós.
Depois, olho pro lado e vejo meu pai ajudando a carregar a taça pra dar a volta olímpica…
Tiramos fotos em tudo que foi lugar, no gol, no meio das entrevistas da jovem pan, no banco de reservas, na cadeira da globo…
Comemoramos com a torcida, como se fizéssemos parte do time. Olhava o Maracanã de dentro pra fora, pisava na mesma ponta de grama onde Garrincha fizera história, lembrei do filme do Pelé, e imaginei quantas jogadas aquele lugar não presenciou…
Era quase uma festa particular, exclusiva para umas poucas pessoas, nunca mais esqueceríamos o que vivemos naqueles momentos.
Pra acabar a noite, ainda fomos aos vestiários, conversamos com dirigentes, jogadores, tiramos fotos com o Chamusca, o Sérgio Soares, o Sandro Gaúcho, e até beijando a taça.
Meu pai agia como um jogador, bebia água, gatorade, deitava e relaxava nas cadeiras, só faltou tomar uma ducha e dar entrevistas.
Já era quase umas 2 da manhã, quando saímos por um portão lateral, e pra surpresa geral ainda havia alguns torcedores do flamengo, uns olhavam meio feio, outros queriam até trocar a camisa, mas nessa hora já não temíamos mais nada…
Subimos no ônibus, e cantamos até umas 3 ou 4 da manhã, quando paramos num posto. Após o posto, todos dormiram, satisfeitos, com o sabor de missão cumprida.
Só eu e meu pai ainda estávamos acordados (típico da nossa família), e chegamos praticamente destruídos de cansaço.
Era o fim de uma aventura e o início de uma nova era pra nós que acompanhamos o Santo André de perto há tanto tempo. Nada mais seria igual, nunca mais seríamos os mesmos. Só de olhar para o ingresso dá vontade de chorar…
O fim da história (se é que a história tem fim) nos levou da extrema felicidade à tristeza sem fim, quando o amigo Márcio, 7 meses depois faleceu em um acidente de moto, deixando as lembranças desse jogo como uma festa de despedida de uma amizade que tínhamos desde criança.
Esse post e o clipe são uma homenagem e lembrança ao nosso Ramalhão, mas sem dúvida, também é uma homenagem e lembrança a ele.
Para esse post contei com a ajuda de várias pessoas, em especial do amigo e historiador do Ramalhão, Alexandre Bachega! Valeu, Ale!
O Estádio Municipal de Santo André foi construído pela Júlio Neves (até hoje eles citam o projeto no site deles) e inaugurado em 15 de novembro de 1969, com um amistoso entre o Santo André FC e o Palmeiras (na época, o campeão da Taça Roberto Gomes Pedrosa).
O Santo André FC, na época apelidade de “Canarinho” por conta de seu uniforme, prometia uma partida defensiva!
Olha aí a cor do uniforme:
O resultado não foi lá muito favorável para o time local, mas a festa valeu a pena!
Pra quem gosta de fichas técnicas, segue a desta partida, com 3.034 pagantes, embora muitos convidados entraram sem pagar…
Na preliminar deste jogo, houve uma partida entre duas forças do futebol amador da região: SE Humaitá 1×0 Vila Bela, com gol de João Carlos, o responsável pelo primeiro gol no Brunão.
A primeira parte a ser entregue foram as arquibancadas cobertas.
Ainda hoje, o bairro ao redor do estádio tem poucos prédios, mas, na foto abaixo é de uma época em que eram 100% casas!
Nunca houve um consenso sobre a capacidade exata do setor das numeradas do Brunão, porque além das cadeiras existiam alguns espaço comuns que em épocas de pouco controle, poderiam ser ocupados…
Mas na época da inauguração, a capacidade oficial era estimada em 6 mil torcedores.
Somente em 10 de outubro de 1973, o estádio mudaria seu nome, como homenagem a Bruno José Daniel, que foi goleiro do Primeiro de Maio FC, depois vereador e Prefeito de Santo André e que faleceu jovem, aos 51 anos, menos de um mês após a inauguração do estádio.
O passo seguinte para a ampliação do Estádio Municipal Bruno José Daniel foi a construção da imponente arquibancada descoberta!
Começaram a ser construídas em 1976 e foram inauguradas em 1977 em um amistoso entre o Santo André e a Seleção da Bulgária, que terminou em 0x0.
Um resumo das atuações na partida:
Mais do que o resultado dentro do campo, o que foi bom mesmo foia arquibancada…. Veja, que linda!
Não tive acesso a nenhum documneto oficial que comprove a capacidade da arquibancada descoberta, mas estima-se que suportava 16 mil pessoas na época. Dessa forma, a capacidade total do Estádio Bruno José Daniel era de 22 mil torcedores.
Mas, essa informação varia para mais (há quem diga em 24 mil) e para menos. Fato é que o recorde de público presente aconteceria em setembro de 1983, num 0x0 contra o Corinthians (último jogo de Zé Maria pelo alvinegro).
Foram 19.189 pagantes oficialmente, mas houve mais de 4 mil pessoas (entre menores e outros) que não pagaram ingresso totalizando um público de mais de 23 mil pessoas. Novamente a Placar, em uma edição de 1987, cita o tema:
Em 1980, veio a inauguração dos refletores do Estádio, num amistoso que perdemos de 2×1 para o Santos. Nesse jogo o Ramalhão contou com um grande reforço: o craque Ademir da Guia disputou o início da partida com a camisa Ramalhina!
O jornalista e torcedor do Ramalhão, Vladimir Bianchini fez uma entrevista com o “divino” sobre o fato:
O Santo André jogou com Milton; Zé Carlos, Luiz Cesar, Alemão e Roberto; Ademir da Guia (Mazolinha), Arnaldinho e Cunha (Neco); Volnei, Zezinho e Bona.Técnico: Luiz Carlos Fescina.
Dessa forma, o Estádio passou por um longo período sem grandes obras e acabou se tornando conhecido e querido não só pela torcida local como pelos visitantes.
Porém, nem o mais entusiasmado torcedor daqueles já distantes anos 80, iriam acreditar, mas em 2004, com a conquista da Copa do Brasil, o EC Santo André confirmava pela primeira vez na história sua participação na Copa Libertadores de América, como se pode ver nessa linda foto da Gazeta Press:
E fez se do Brunão, um caldeirão!
Mas para poder receber a disputa, o “Brunão” (o Estádio Bruno José Daniel já se fazia íntimo do torcedor há tempos) ganhou, temporariamente um aumento da sua capacidade. Na época, o amigo Thiago Fabri foi até o estádio assim que as arquibancadas ficaram prontas e fez essas fotos pros Ramalhonautas.
O cálculo da capacidade do Estádio nesse momento era difícil, porque haviam sido alterados os padrões e a capacidade inicial havia sido reduzida para 18 mil, estima-se que com as duas arquibancadas, chegou-se novamente a 20 mil lugares.
Essas arquibancadas nunca foram utilizadas. Foram feitas só pra cumprir uma obrigação.
Assim que o Santo André saiu da Libertadores, as arquibancadas tubulares foram desmontadas, voltando ao “padrão” que todos haviam se acostumado.
Tudo estava em paz até que em 2011 um burocrata teve uma ideia: Vamos derrubar aquela marquise, porque aquilo deve estar perigo…
O então Prefeito de Santo André, Dr. Aidan Ravin (PTB), anunciou uma “grande reforma do Brunão”. E assim, começou o inferno da nossa torcida.
Nunca ficou provado que era tecnicamente necessária a demolição da marquise. Estivemos lá às escondidas para registrar a demolição e recolher alguns pedaços de recordação…
O Santo André precisou atuar em cidades vizinhas como: São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Mauá e até em Araras e dentro de campo as coisas também foram mal… seguidos rebaixamentos no campeonato brasileiro e no estadual.
A resposta do torcedor foi dada nas urnas, e Aidan, que vinha com grandes chances de se reeleger viu sua carreira política ruir, como ruiram nossas arquibancadas.
Até música o Visitantes (a banda rockeira do Santo André) fez sobre esse difícil momento:
Somente em 2013, o novo prefeito (Carlos Grana / PPT) reabre o estádio com a presença dos seus torcedores.
Aos poucos as obras trouxeram um novo Bruno José Daniel, no lugar da antiga e vistosa marquise, em 2015 conhecemos uma nova arquibancada descoberta.
Em abril de 2017, voltamos a ter um sistema de iluminação.
Agora, podemos ter jogos noturnos novamente!
Por fim, o último movimento do Estádio foi receber as tendas da Prefeitura e transformar-se em um hospital de Campanha durante a pandemia do Covid 19.
Pode se dizer que o Estádio Municipal Bruno José Daniel fez mais do que a sua parte na vida dos andreenses…
Atualização: após a pandemia, o Estádio Municipal Bruno José Daniel recebeu uma grande mudança: a troca do gramado natural por artificial. Dê uma olhada em como foi a época das obras:
A foto acima é de 2010. Naquele ano não conseguimos liberar o Brunão para o início da série B e jogamos no então Parque Antártica, como mandantes (veja mais sobre esse jogo aqui). O site do Palmeiras ainda guarda lindas fotos daquela época:
2018. 8 anos mais tarde, temos em nossas mãos este pequeno pedaço de papel, nos garantindo a presença em mais um embate importante: a estreia do Ramalhão no Paulista 2018. Nesse momento, sequer imaginava a possibilidade de cairmos para a série A2, e que ainda assim, retornaríamos para a A1 apenas 2 anos depois.
Nos enfiamos no Mobi (não sei como o Duplex coube…) e quase duas horas de trânsito depois, chegamos…
O Estádio: Parque Antártica! Ou melhor… não…. É a nossa estreia na “Allianz Parque” a nova casa do Palmeiras, e só de olhar o mapa de acesso e preços, percebe-se que se trata mesmo de um novo modelo.
O Allianz Parque, também chamado de Arena Palestra Itália foi construída pela WTorre Properties/Arenas, e levou 4 anos pra ficar pronta (de 2010 a 2014), sendo inaugurado oficialmente na partida Palmeiras 0x2 Sport (para 35.939 pessoas) e lá fomos nós para conhecê-lo e ainda torcer pelo nosso Ramalhão.
Aí as modernas bilheterias do setor visitante.
A WTorre tem a concessão da administração do estádio até 2044 (nunca na minha vida tinha pensado neste ano…) e o Palmeiras fica com toda a grana relacionada ao futebol e ainda recebe uma participação do dinheiro que vier de shows e eventos. E dá pra se fazer muuuuuito dinheiro, já que são 43.713 lugares de capacidade.
Chegamos cedo, porque sendo visitantes a nossa chegada se faz inevitavelmente pelo meio da torcida do Palmeiras, e deu pra ver o estádio encher aos poucos.
Nós, fizemos o possível, levando ao moderno Allianz nossos apaixonados torcedores tão acostumados aos estádios do interior de São Paulo.
Nossa torcida não é muito grande, todos sabem. Mas temos um pessoal muito firmeza e que comparece a todos os jogos seja em casa ou fora.
Enquanto aguardávamos o início do jogo, chegavam as primeiras imagens pela TV do nosso time. Aqui, o nosso xerifão Domingos prometia dedicação total!
O Allianz acabou virando uma verdadeira casa de espetáculos, a prova é que encontramos quem não fosse torcedor de nenhum dos times (esse é um atleta que iria disputar ali uma competição nos dias seguintes).
O jogo começa e a casa está cheia! A atmosfera é bacana, mas é bem diferente do que víamos no antigo Palestra.
A torcida do Palmeiras comparece, pagando ingressos caros e gerando arrecadações nunca antes imaginadas. Falamos de alguns milhões de reais por jogo. Mas… A primeira consequência direta disso é que os jogos do Palmeiras se transformaram em um evento caro, sendo cada vez mais difícil para o torcedor comum assistir todos os jogos em casa.
Nós, repetíamos o que sempre cantamos “Pode jogar com raça, que na arquibancada, nóis num para não!!!“.
Em meio a tanta coisa nova (esse é o tal futebol moderno), tivemos dois problemas não esperados. Primeiro que o Rafa, nosso torcedor cadeirante, simplesmente não teve como ver o jogo consoco, poruqe, pasmem, não existe nenhuma preocupação com a acessibilidade no setor visitantes. Outro ponto que chamou a atenção e conseguimos registrar foi a falta de extintores nos locais em que deveriam estar.
Deixando isso de lado… Lá vamos nós em mais uma aventura!
O jogo foi muito bom. Perdemos por 3×1. Mesmo assim, nossas esperanças estavam no máximo.
Infelizmente, acabamos rebaixados para a série A2, de onde torcemos escapar o quanto antes…